é esse o grande objectivo da surfaddict – associação portuguesa de surf adaptado -, criada por nuno vitorino, um antigo nadador paralímpico empenhado em transformar a modalidade num «desporto para todo», e fazer com a que «a deficiência, ou a cadeira de rodas, não sejam um impedimento» para qualquer um se fazer ao mar.
«antigamente fazia bodyboard. a partir dos 18 anos, depois do acidente, nunca mais fui ao mar e tinha um grande desgosto. comecei a olhar para o mar e para a areia e a ver quais eram as barreiras que conseguia transpor», conta, acrescentando que «com a ajuda de amigos as barreiras foram sendo ultrapassadas».
com a primeira associação de surf adaptado da europa, nuno vitorino pretende criar um «movimento à escala nacional e quem sabe à escala europeia» que permita às pessoas com deficiência desfrutarem o mar, baseando-se num princípio simples: dar formação às escolas de surf e criar, entre a comunidade surfista, um grande movimento de voluntários.
«queremos levar o ‘know how’ às escolas de surf, recebendo em troca os voluntários e os meios materiais – pranchas e fatos – para que estas actividades consigam ter o seu sucesso», explica nuno vitorino, que aposta nas «parcerias com escolas, instituições públicas e locais para que tudo seja gratuito» para os praticantes.
uma ida de nuno vitorino à água implica, actualmente, uma combinação prévia e o trabalho de quatro pessoas – duas ou três que o levam para a zona da rebentação e uma outra que fica à beira mar e o vai levando para dentro.
«é uma espécie de jogo de ping-pong sendo eu a bola. apanho a onda venho para a zona da rebentação. alguém pega em mim, começa-me a levar para dentro», explica, confiante de que com o evoluir da associação todo o processo vai ser agilizado.
no mar, nuno utiliza «um fórmula 1 das ondas», uma prancha especial e maior que as convencionais construída pela empresa xcult surfboard «com um ‘astrodeck’ que tranca as pernas e pegas» para que se consiga agarrar.
admite que a sua prancha adaptada «dá mais adrenalina», mas reconhece que «numa primeira fase não são precisas grandes adaptações materiais» para que as pessoas com deficiência pratiquem surf, bastando «uma prancha normal de borracha, das utilizadas para a iniciação».
o mentor do projecto reconhece que «dar formação às escolas não é simples», e é por isso que classifica com «extremamente importante» o papel da sociedade, tanto ao nível dos apoios como de parcerias.
a suraddict vai mostrar-se pela primeira vez sábado, 16 de junho, na praia do baleal onde todos poderão praticar surf, independentemente da condição física.
o evento, que contará com a presença de figuras conhecidas do surf nacional, vai ter «pela primeira vez, na europa, uma mota de água a rebocar as pessoas com deficiência para a zona da rebentação para facilitar o trabalho dos voluntários», explica nuno vitorino, mostrando-se muito satisfeito com a adesão que a iniciativa tem tido.
«temos já 150 voluntários inscritos e mais de 20 pessoas com deficiência», refere, lembrando que toda a publicidade tem sido feita através das redes sociais e do sítio da associação.
convicto de que dentro de algum tempo vai ser possível a uma pessoa com deficiência «chegar a uma praia e encontrar uma escola com formação específica para a levar à água em total segurança», nuno vitorino continua a apanhar ondas, num mar que dilui diferenças.
«sinto-me um entre iguais, eu não sou uma pessoa em cadeira de rodas quando estou a surfar», garante, esperando que muitos outros deficientes possam, em breve, sentir o mesmo.
lusa/sol