A crise do capitalismo

O capitalismo encontra-se em crise. E não é pela primeira vez. Há que reconhecê-lo. E um dos principais problemas com que se defronta encontra-se no aumento das desigualdades de rendimento nos países desenvolvidos, para o qual ele tem contribuído, e que neste momento é particularmente acentuado em alguns países.

Vários aspectos negativos do comportamento das economias capitalistas nos últimos anos têm levado a pensar que o capitalismo, como sistema, pode mesmo vir a morrer, se não sofrer alterações radicais.

Não podemos esquecer, porém, o sucesso que a economia capitalista teve nos últimos 150 anos, como o Financial Times pôs em evidência recentemente, num debate sobre ‘o capitalismo em crise’.

Também não podemos ignorar o facto de o capitalismo ter triunfado em relação às economias de direcção central dos países comunistas, constituindo, como lhe tem sido reconhecido, a melhor alternativa dos sistemas económicos de que dispomos. E uma das razões está no facto do espírito de inovação e criatividade ser algo inerente ao capitalismo, mais do que a qualquer outro sistema económico.

Isto não quer dizer que o capitalismo não tenha deficiências que importa corrigir ou eliminar, colocando-se hoje também o problema que Keynes anteviu já nos anos 30, que foi o de saber como melhorar o funcionamento do modelo então existente.

Como alguém disse: o capitalismo pode durar, e deve durar, mas para perdurar terá também de mudar. E uma das coisas que terá de mudar é o papel do Estado.

Como se nota num relatório recente da OCDE, o capitalismo de Estado é o maior desafio que o capitalismo liberal jamais defrontou. Mas a acção do Estado face ao capitalismo tem de ser alterada em aspectos como o da regulação dos bancos e noutros domínios da economia.

Um dos aspectos que tem de ser considerado é o de que, para funcionar melhor, o capitalismo tem de ser orientado por princípios ou valores morais.

Michael Novak, no livro Ética Católica e o Espírito do Capitalismo, afirma que um capitalismo bem entendido requer uma revolução moral. Para produzir os frutos que dele são esperados, o capitalismo não pode operar apenas com um conjunto de regras ou normas económicas neutras que lhe permitam ser eficiente. A sua prática requer requisitos, atitudes e exigências morais.

Como afirmado neste livro, o único fundamento duradouro de uma sociedade capitalista é de ordem moral, espiritual e religiosa. E esse fundamento pode encontrar-se na Ética Católica devidamente explicitada e desenvolvida em quatro encíclicas fundamentais dos Papas Leão XIII, João Paulo II e Bento XVI: Laborem Exercens, Sollicitude Rei Socialis, Centesimus Annus e Caritas in Veritate.

Aí se encontram descritas as formas de defesa dos mais pobres e carenciados, e de correcção das desigualdades que o capitalismo terá de adoptar.

De uma maneira geral, as economias capitalistas não são devidamente reguladas, mas nas encíclicas referidas são-nos indicados os princípios e fórmulas de regulação que poderão assegurar ao capitalismo as valias que ele requer.

Professor, Católica Lisbon-School of Business & Economics