até agora, a informação que nos chega sobre a nova lei não dá indicações claras sobre quem terá acesso aos dados sobre os criminosos (imaginando que se trata de pedófilos condenados). uma base de dados, ainda que semipública, com o estado de fora, a entregar de mão beijada um poder do qual não pode abdicar, convida a sociedade a fazer justiça pelas próprias mãos. é difícil perceber esta decisão de paula teixeira da cruz. tenho esperança que a repense e que dedique o seu ânimo à necessária aplicação de penas mais duras para os crimes de pedofilia. uma maior celeridade na resolução dos processos seria igualmente bem-vinda. mas informar a comunidade e as escolas do sítio onde mora o pedófilo, pode acabar por tornar o criminoso na vítima. não impede nenhum crime. pelo contrário, fomenta a violência.
o massacre dos cães
como qualquer pessoa que não é adepta de futebol, o euro 2012 não me interessa. vejo os jogos da selecção portuguesa ao mesmo tempo que jogo ‘angry birds’. mas não é só a falta de interesse por futebol que me afasta da competição. desde o ano passado que a ucrânia adoptou a política vil de chacinar os cães abandonados, para as ruas da cidade ficarem ‘limpinhas’ para os visitantes. as imagens de cães mortos amontoados foram publicadas na altura em que o caso foi denunciado e continuam a aparecer na imprensa estrangeira. os criminosos receberiam cerca de 30 euros por cada cão ou gato morto. os activistas dos direitos dos animais chegaram a acordo com o governo ucraniano, que se comprometeu a construir abrigos para cães e gatos abandonados, mas as imagens circulam como se o massacre continuasse a acontecer. o euro 2012 não me dizia muito antes de ver as imagens. agora é como ver jogar à bola num cemitério de animais.
nas mãos de especialistas
um artigo na revista the economist chama a atenção para a indústria de especialistas que vive de aconselhar os clientes daquilo que ninguém sabe: o futuro. o artigo vem a propósito da publicação de um livro de philip tetlock, expert political judgement, em que o autor defende que os consultores financeiros, apesar de acertarem de vez em quando nas suas previsões, não têm hipótese de prever o futuro bolsista, mesmo quando estão bem informados. o autor compara os consultores financeiros a oráculos e defende a tese de que precisamos deles porque há que pôr a culpa em alguém quando tudo corre mal. neste caso, não serão tão parecidos com os oráculos, pois estes nunca tinham culpa de nada. diziam a verdade sobre o futuro: o problema era de quem os ouvia e nem sempre percebia a mensagem. dantes ganhava a ambiguidade do oráculo; hoje vence a certeza dos especialistas. mas é comum a ambos que pouco se cumpra como previram.
tudo resolvido
a moda de filmar e fotografar os ecrãs dos computadores de pessoas no exercício público das suas funções é desagradável. há uns meses, a imprensa alemã caía em cima do ministro das finanças wolfgang schäuble por estar a jogar ‘sudoku’ enquanto no parlamento se discutia mais um resgate à grécia. como se fosse preciso estar como uma atenção extrema ao navio que bateu no fundo do mar. agora o espiolhado foi um pobre juiz norueguês que jogava ‘solitário’ durante o depoimento de uma testemunha no caso anders breivik. ernst henning eielsen está envolvido no julgamento de um mais que comprovado sociopata. neste ponto do processo, que especial atenção é necessária para julgar anders breivik? que concentração é preciso ter para ouvir mais uma testemunha do horror vivido naquele dia em utøya? o episódio banal serve para vermos como o processo se está a arrastar. é provável que não saibam o que fazer com tal monstro.
i love sashimi
chama-se sushi fashion e é dos sítios mais simpáticos onde tenho almoçado em lisboa. falo do restaurante do chiado, perto do são carlos, um restaurante onde o caro editor josé cabrita saraiva nunca há-de querer ir. longe de mim pregar as maravilhas do toro (a parte mais gorda do atum) a quem não gosta de peixe cru, mas aviso os apreciadores que ali é tudo de comer enquanto se choram lágrimas de prazer. corrijo: tudo não. sou contra a utilização da pavorosa maionese e do medonho queijo fresco na confecção dos tamaki (cone de algas com peixe e legumes picadinhos). de quem foi a ideia? trata-se de um crime contra o peixinho cru. devemos ainda torcer o nariz à galinha que insistem em fritar. a tempura não interessa aos fãs. estes, na verdade, só querem saber de variantes de sushi e sashimi. um ou outro tamaki sem molhos. sopa de miso. gengibre e wasabi. nabo cortado muito fino. o sushi fashion é um paraíso.