os quatro pontos valiam à espanha e croácia um empate no topo, e se o resultado final fosse outra igualdade, a dois golos, ambas as equipas seguiam em frente. os croatas mudaram a estratégia, abdicaram de um avançado para povoar o meio campo e, por muito tempo, anularam o perigo que costuma representar a posse de bola da la roja. só um último esforço para garantir o apuramento é que levou os croatas a abdicaram desta fórmula, e só aí é que surgiu o solitário golo espanhol.
por todo o lado a imprensa destacou o ‘pacto’ com que esta partida poderia terminar: um empate a dois golos entre croatas e espanhóis apuraria ambos para os quartos de final, e tornaria infrutífero qualquer vitória da itália sobre a irlanda, no outro duelo do grupo.
sem falar em pactos, a croácia apresentou-se em campo com uma estratégia distinta à que tinha adoptado nos dois jogos anteriores. aqui, o slaven bilic, treinador balcânico, preferiu adaptar-se ao poderio espanhol do que arriscar a manter a sua habitual equipa com dois avançados e ordem para bombardear cruzamentos para a área.
a ordem para cruzar continua lá, mas a pontaria será apenas para um homem de área. mandzukic, com três golos marcados, ficou sozinho na frente, e jelavic no banco. nas alas, srna avançou para médio direito, rakitic juntou-se a vukojevic e modric num trio no centro, e pranjic substituiu perisic na esquerda. o objectivo era claro, e passava por tentar fazer o que muitos falham contra os espanhóis- apertar os espaços a meio campo e impedi-los de circular a bola.
no início, pelo menos, conseguiram dificultá-lo. o maior poderio físico dava quase sempre a bola aos croatas cada vez que a disputavam, corpo a corpo, com os espanhóis, que só aos 11 minutos conseguiram chegar à área adversária, com um remate fraco de andrés iniesta.
em dois minutos, um par de provas a comprovar, até então, da eficácia da tarefa croata: aos 22 minutos, sérgio ramos foi obrigado a tentar, de muito longe, uma remate de muito longe à baliza de pletikosa e, um minuto depois, foi o outro central, gerard piqué, a tentar o mesmo. aos 24 minutos, pranjic fez o primeiro remate dos croatas no encontro.
até ao fim, houve menos remates espanhóis e a mesma organização croata, que tem retirado a hipótese à espanha de fazer algo de prático com a bola, que, como é hábito, tem passado mais tempo nos pés dos seus jogadores. uma das razões prendeu-se com a forma, algo lento, em que os espanhóis têm trocado a bola entre si, principalmente no meio campo. algo que trouxeram do intervalo para a segunda parte.
uma croácia mais atrevida
após o descanso, a croácia também passou a roubar mais bolas à espanha. nos primeiros minutos do segundo tempo, esta tendência teve em luka modric um protagonista algo inesperado, sendo ele o médio de ataque. a sua rapidez e visão de jogo, uma vez recuperada a bola, foram fundamentais para que os balcânicos conseguissem aproximar-se da baliza de casillas em ataques rápidos.
e num destes ataques, aos 58 minutos, modric criou a melhor oportunidade de golo. o médio do tottenham conduziu rápido a bola pela direita, puxou consigo a equipa para a frente, e cruzou depois para um dos que o acompanhou, rakitic, cujo cabeceamento tomou a direcção de casillas, que assim conseguiu defender a bola e afastá-la da sua baliza.
este foi o aviso que vicente del bosque precisou para voltar à fórmula que utilizara diante da itália – tirou torres, colocou jesús navas em campo, e passou a jogar sem um avançado fixo. só que agora não foi para lá fabregas, habituado a assumir um papel de falso ponta de lança.
o treinador preferiu antes dar alargar ao meio campo espanhol, colocando navas junto à linha lateral, procurando antes afastar os croatas entre si no meio campo, quando estivessem a defender. a tendência, contudo, não se alterou: a croácia continuou a ameaçar os espanhóis, que só nos últimos cinco minutos arriscaram mais no ataque.
aqui já estavam em campo jelavic, e assim a dupla de avançados com que o treinador croata arriscou tudo para tentar marcar um golo que desse o apuramento aos croatas. corluka ainda ameaçou aos 86 minutos, ao cabecear uma bola por cima da baliza de casillas, após ser agarrado por arbeloa.
logo a seguir, o golpe final espanhol. a croácia, mais preocupada em lutar no ataque por um golo, deixou a sua defesa sozinha perante um ataque espanhol, e sozinho ficou cèsc fabregas para fazer um passe por alto a desmarcar iniesta que, já dentro da área, se limitou a passar a bola para navas, que só teve de rematar a bola para uma baliza aberta e desprotegida.
só o risco final fez com que a croácia concedesse um golo à espanha, que voltou a ter dificuldade para ultrapassar uma equipa assente numa estratégia montada para deter o jogo espanhol. porém, e à semelhança da itália, os croatas visaram sempre atacar a baliza de casillas, e foram os balcânicos que, muitas vezes, deram a sensação de estarem mais perto de marcar.
mas o futebol, e o europeu, não é feito de sensações. um golo, o que conta, bastou para a espanha virar o último esforço croata a seu favor, a garantir uma vitória que lhe deu a liderança final no grupo c.
a croácia sai de prova, lá está, deixando uma boa imagem e sensação. mas cai num grupo onde, de qualquer forma, poucos esperavam que conseguissem avançar. construiu o mérito de ter esticado a sua luta pelo apuramento até ao final, e a espanha lembrar-se-á disso mesmo.
onzes iniciais
espanha: casillas; arbeloa, piqué, ramos e alba; busquets e xabi alonso; silva, xavi e iniesta; torres.
croácia: pletikosa; vida, schildenfeld, corluka e strinic; vukojevic e rakitic; srna, modric e pranjic; mandzukic.
(artigo actualizado às 21h49.)