depois de anunciar o não cumprimento do défice acordado com bruxelas, de nacionalizar o bankia e, semanas depois, admitir que não há dinheiro para capitalizar a instituição, o primeiro-ministro espanhol, mariano rajoy, decidiu inovar e criar uma nova categoria de assistência financeira na europa: o resgate «suave, sem austeridade e exclusivamente destinado à banca». mas os mercados chumbaram a ideia e as instituições europeias vieram a público garantir que não há ‘dietas’ desse tipo.
plano desconhecido
além do valor indicativo – 100 mil milhões de euros – pouco se sabe do plano de assistência aos bancos espanhóis que foi aprovado pelo eurogrupo, no sábado passado, com reservas por parte da holanda e finlândia. segundo a imprensa espanhola, a verba da ue será gerida por um fundo estatal que depois canalizará o dinheiro para os bancos. espera-se que o empréstimo tenha um juro de 3%, com um período de carência de cinco anos e um prazo de pagamento de 15 anos – os bancos assistidos terão de reembolsar os seus empréstimos a uma taxa de 8,5%. porém, as grandes questões continuam por explicar: como se definiu a verba de 100 mil milhões de euros, que fundos de resgate irão assistir espanha e que bancos necessitam de apoio?
o mercado acredita que a verba é curta para a situação real da banca espanhola, carregada de malparado e activos tóxicos do sector imobiliário. no curto prazo serão necessários entre 150 a 200 mil milhões de euros para capitalizar a banca, dizem os analistas, enquanto o fmi já veio dizer que é preciso reformar todo o sistema de caixas de aforro no país.
juros em alta
além da escassez da verba, os investidores tomaram o resgate ‘suave’ de rajoy como um resgate integral, sobretudo depois de a ce ter confirmado que qualquer apoio financeiro terá condições económicas. madrid terá uma tarefa quase impossível para corrigir as contas do estado sem recorrer a medidas de austeridade.
a dívida espanhola a 10 anos superou os 7% – um ponto de não retorno para os investidores – e o risco de fazer um seguro à dívida alcançou o valor mais alto desde o início do euro. e o encerramento dos mercados a espanha poderá piorar nos próximos dias. anteontem, a moody’s cortou o rating do país vizinho em três níveis para o patamar anterior à categoria ‘lixo’, e alertou que poderá fazer novo corte. a fitch já tinha feito o mesmo há duas semanas e a standard&poor’s poderá tomar uma decisão nos próximos dias – a última avaliação foi em abril.
as contas públicas e as metas do défice orçamental serão as primeiras vítimas de um resgate exclusivamente destinado à banca.
rajoy assegura que os bancos serão os únicos a pagar a factura, mas a realidade parece ser outra. primeiro, os 100 mil milhões de euros da ue – o fmi não pode assistir bancos, só estados – serão contabilizados na dívida pública espanhola. esta irá subir de 78% para cerca de 90% do pib, tornando mais caro o financiamento do país. segundo, o eurostat – o gabinete de estatística de bruxelas –, já confirmou também que o empréstimo e o juros serão contabilizados no défice orçamental, desmentindo, mais uma vez, o primeiro-ministro espanhol, que tinha afirmado o contrário.
madrid terá de desembolsar uma média de 3 mil milhões de euros ao ano, só em juros, e caso se aplique a verba integralmente para a banca num ano – como fez o governo irlandês – o défice espanhol subiria cerca de 10 pontos percentuais para cerca de 16%.
madrid contagia roma
mas numa crise em que o contágio é a palavra de ordem, a ‘aventura’ de rajoy fez vários danos colaterais, com a itália a ser a mais penalizada. roma assistiu a nova escalada nos juros da sua dívida – que se mantiveram acima dos 6% toda a semana. nos dois leilões, efectuados ontem e quarta-feira, o preço disparou com os investidores cada vez mais receosos de que itália também necessite de um resgate financeiro – uma hipótese admitida esta semana pela ministra das finanças austríaca.
roma pagou um juro de 4% numa emissão a um ano (contra 2,3% de há um mês) e mais de 6% para prazos a sete e oito anos. hoje, itália regressa aos mercados para levantar mais 9,5 mil milhões de euros. o país sofre dos mesmos problemas das economias periféricas: após anos de estagnação económica, o pib deverá cair 1,5% em 2012, a dívida pública supera 120% do produto, o desemprego está nos 10% (36% nos mais jovens) e a produção industrial já caiu 25% desde 2008.
ue tem três meses
os próximos 15 dias serão determinantes para o futuro da zona euro, mas a resolução da crise – ou o desmembramento da moeda única – irá decidir-se não só em bruxelas ou berlim, mas sobretudo em atenas, madrid e roma. após dois anos e 25 cimeiras ou encontros ‘decisivos’, os líderes europeus têm agora apenas três meses para encontrar um solução para a crise, disse christine lagarde, directora-geral do fmi.