O retrato de uns checos lutadores, mas frágeis

Os buracos que os checos taparam, mas que Portugal pode reabrir e explorar

um olhar pelos resultados atira os checos para um percurso semelhante ao desenhado por portugal: duas vitórias no último par de jogos viraram o negro destino que já lhes era vaticinado após a derrota no encontro inaugural do europeu. o seu treinador soube tapar os buracos que a república checa abriu diante da rússia, e formou uma equipa longe do estilo mais físico do leste e assente na posse de bola rápida, mas previsível.

o dia inaugural do europeu
começou com a república checa a ser derrotada por 4-1 pela rússia. além de ter
servido para uma chuva inicial de elogios caídos no colo de uma equipa
russa – que viria a ser eliminada -, esse resultado mostrou a michael bilek o quão
frágil tinha montado a sua equipa.

nesse encontro, o treinador ditou a derrota pelo seu meio
campo. à frente da defesa colocara uma dupla de médios formada por jaroslav
plasil e petr jiracek, ambos com técnica suficiente para manterem a dinâmica a
atacar, com a bola nos pés, mas os dois sem as necessárias preocupações defensivas para
ocuparem essa posição.

à sua frente estava tomas rosicky, capitão checo e o ‘cérebro’
do jogo da equipa, que tanto recua ou cai num flanco para procurar espaço que lhe
permita receber a bola, virar-se para a baliza adversária e começar a desenhar
jogadas de ataque com os colegas que estiverem mais adiantados no campo. é o
artista checo, mas outro que também pouco dá à equipa nos momentos em que é preciso
defender.

perante uma rússia que tentou sempre ser uma cópia do modelo
espanhol, esta opção foi faltal. embora frios, algo lentos e erróneos, os russos
preferiam sempre os passes curto, assentes num estilo de recepção, toque para passar e movimentação para dar apoio,
fazendo a bola rolar entre os seus jogadores, onde só ganhava velocidade quando
chegava já perto da área.

ora, com dois checos no centro do campo sem o hábito de
defender e de compensar nos espaços deixados vazios pelos seus companheiros, a
equipa foi uma presa fácil.

a partir do segundo jogo, porém, bilek mudou as peças e
alterou a estratégia. atirou para a frente da defesa tomas hubschmann, trinco
do shakthar donetsk, um médio mais forte fisicamente e cuja natureza passa por
fechar os espaços e compensar os colegas a defender.

ao seu lado ficou plasil, agora mais livre para subir no
terreno, e jiracek passou para a ala direita. o jogador contratado em janeiro pelo wolfsburgo é, a par
de rosicky, quem melhor conduz a bola na equipa, sendo a ele que os companheiros recorrem quando é necessário sair para o contra-ataque ou
ataques rápidos. em ataque continuado, vem muitas vezes procurar espaços para o centro do meio campo, e conta já um par de golos marcados.

do outro lado está vaclav pilar, que na próxima época também representará o clube germânico. o mais rápido da equipa, pilar é um
extremo que alarga a profundidade do jogo checo, ficando encostado à linha
à espera que lhe cheguem bolas. já fez dois golos neste europeu, ambos após
arrancar desde a esquerda, em velocidade, num movimento diagonal para o centro
da área, onde recebeu depois passes dos seus companheiros.

na frente continua a estar milan baros. hoje mais físico e
não tão móvel como o avançado que foi o melhor marcador no europeu de há oito
anos , em portugal – com cinco golos. na selecção actual, está encarregue de fixar um defesa central
adversário, na tentativa de abrir espaço para as tais diagonais de pilar, ou
para a entrada de jiracek. foi assim que a república checa marcou frente à
polónia, no último jogo do grupo.

o 4-2-3-1 checo terá a sua maior debilidade na defesa. a dupla
de centrais é composta por homens altos e fortes, mas lentos e erráticos com a
bola nos pés, num estilo semelhante à dupla holandesa que portugal defrontou no
domingo.

à direita, o lateral gebre selassie, o primeiro negro a
actuar pela selecção checa, de origem etíope, procura subir muito no terreno no apoio aos
movimentos atacantes da equipa. apesar da sua velocidade, deixa muito espaço
nas suas costas.

um espaço que cristiano ronaldo poderá explorar,
aproveitando também o facto de não ter que fechar muito o seu flanco a
defender, pois essa função já foi entregue a joão mourinho ou raul meireles, como
ficou visível no encontro frente à holanda. no meio, a presença de hubschmann
ajudou mas não apagou os espaços que a equipa continua a deixar quando o
adversário consegue trocar a bola no seu meio campo.

há quatro anos, portugal venceu por 3-1 a república checa,
numa fase de grupos que a selecção acabou com uma derrota, diante da suíça, e
que terá contribuído para a equipa chegar com outra mentalidade aos quartos de
final. desta feita, a selecção de paulo bento deverá partir moralizada para os ‘quartos’,
ao ter arrancado a ferros o apuramento, e logo num grupo que era consensualmente
encarado como o mais difícil na prova.

diogo.pombo@sol.pt