encontrar o ‘bom dia-smaki portugalii’ é tarefa praticamente impossível sem gps, mas o mesmo não se passa com o seu produto mais (re)conhecido. o pastel de nata português está à venda em quase todos os cafés de poznan, nos centros comerciais da cidade e até no aeroporto, e a responsabilidade é de joão chagas.
«tivemos esta ideia há uns três anos atrás, quando viemos visitar a polónia. a culinária não é muito forte aqui, os doces são muito limitados, eles gostam muito de experimentar coisas novas e o pastel de nata é um bolo que vai bem em qualquer lado», disse à agência lusa o co-proprietário da marca.
a ideia original do emigrante português e do sócio duarte costa era negociar vinhos, no entanto, com a concorrência feroz que se faz sentir no mercado polaco, cedo perceberam que o caminho a percorrer teria de ser outro. e, assim, nasceu o produto-símbolo da marca, que também vende compotas, tortas de laranja ou café, com o rótulo nacional.
«os pastéis de nata são um produto que nós portugueses devemos levar para outros países. e é bem aceite. a prova é que está a correr bem», reconheceu o português da marinha grande, indicando que, por dia, fabricam, em média, 250 bolos.
e se agora o ‘bom dia-smaki portugalii’ (em polaco, «sabores de portugal») é um fornecedor incontornável da praça velha de poznan, o local mais emblemático da cidade polaca, é porque os dois sócios dedicaram longos meses a trabalhar no conceito.
«primeiro tivemos de aprender como é que havíamos de entrar no mercado. compreender a mentalidade, saber comunicar com os polacos, conhecer a legislação, saber procurar os espaços. isto demorou quatro meses a licenciar – por sermos estrangeiros, eles são mais rigorosos para não falharmos nada», enumerou.
todo este know how, segundo joão chagas, só chegou ao fim de algum tempo, com o conhecimento da cidade – «não sabíamos os locais, havia especulação imobiliária, as rendas eram altíssimas, os advogados eram caros» – e das pessoas certas.
«as portas foram-se abrindo. foi assim que as coisas andaram para a frente», recordou. e a primeira a abrir-se foi a do seu café de sempre, onde todos os dias, «como bom português, ia tomar a bica»: «fizemos uma degustação, as pessoas gostaram e começaram a comprar-nos o pastel de nata».
sem fórmulas secretas para o fabrico de um dos expoentes máximos da doçaria portuguesa, joão costa atribui o sucesso à receita, «não muito doce, caseira, feita à moda tradicional», à massa estaladiça e ao creme feito pelo cozinheiro português.
«e depois, todo o polaco que esteve em portugal já provou o pastel de nata e isso também ajuda. não é um bolo com um grande aspecto, mas depois de provarem [os polacos] ficam fãs do pastel de nata», garantiu.