a última partida da fase de grupos, diante da holanda,
mostrou isso mesmo. «não gosta de defender», chegou a acrescentar o capitão checo.
todas as suas palavras reflectem o que se nota quando a selecção está em campo,
mas não falaram das repercussões que trazem consigo.
primeiro, o que de mau traz à equipa. o facto de ronaldo não
descer tanto no terreno nos momentos defensivos expõe fábio coentrão, o defesa
lateral que está atrás de si, a trabalho extra em certos momentos do jogo.
principalmente nas altura em que o lateral adversário decide subir no campo e
apoiar o extremo – caso haja um. aí, cria-se uma situação de dois contra um,
caso ronaldo não acompanhe o lateral adversário.
nesses momentos, e para anular essa inferioridade numérica,
tem que ser um médio centro a compensar a falha de ronaldo e vir ocupar o
espaço desse lado, ou pelo menos acompanhar o defesa lateral adversário na sua
movimentação. em suma, tapa-se um buraco na esquerda para abrir outro no meio.
algo que ficou notório no encontro diante da holanda.
durante a primeira parte, foi joão moutinho a preocupar-se
mais com a ala esquerda, quando a equipa defendia. no golo holandês, o médio colocou-se
ao lado de coentrão para fechar os caminhos a arjen robben, extremo que tinha a
bola e, por ser um esquerdino a jogar na direita, a conduz quase sempre para o
meio.
esta compensação abriu um espaço à porta da grande área portuguesa.
um buraco que foi visto por robben, que se apressou a passar a bola para rafael
van der vaart, que aguardava pela sua chegada nesse mesmo local. e, sem
portugueses por perto, teve tempo para apontar um remate para o poste mais
distante da baliza, onde rui patrício já não conseguiu chegar.
na segunda parte passou a ser raul meireles a fazer esta
compensação à esquerda, e o meio campo português equilibrou-se para anular um
desequilíbrio que, como se viu, a equipa terá sempre na ala esquerda. mas nem tudo
são desvantagens, como quiçá pensarão os checos.
esta indisposição de ronaldo para defender – ou as eventuais
ordens vindas de paulo bento para não o fazer -, dão à equipa portuguesa
algumas vantagens noutros momentos. em suma, quando tem a bola e é preciso
atacar.
cientes de que o extremo do real madrid não se preocupa em
defender, os adversários aproveitarão para fazer subir o seu lateral direito,
para explorar os tais espaços nessa faixa. no caso da república checa, desse
lado está gebre selassie, um lateral cujas raízes etíopes lhe deram uma faceta
velocista ao seu jogo, um jogo que passa por avançar várias vezes no terreno,
quando a sua equipa ataca.
ora, este avanço pode ser explorado por ronaldo, que se
costuma manter no seu flanco, então desprovido de um defesa, à espera que a
equipa recupere a bola e a faça chegar a si. nesse momento, no início de contra-ataques ou ataques rápidos, surge o melhor que
o capitão português pode dar: velocidade a transportar a bola, um poder de
remate de qualquer sítio a menos de 30 metros da baliza, ou a capacidade para
passar a bola para outros jogadores portugueses que o acompanhem no
contra-ataque.
aí sim, com a bola colada aos pés, ronaldo é perigoso. e se
não defender, menos metros terá que correr para chegar à baliza, e portanto
mais rápido chegará à baliza adversária. viu-se isso mesmo contra a holanda, e igualmente com a dinamarca. a diferença foi que, diante dos nórdicos, o capitão português falhou no momento de rematar a bola para dentro da baliza.
mesmo que lhe aparecem vários adversários pela frente, serão
na grande maioria das vezes defesas centrais a compensarem a ausência do
lateral. no caso checo, tal como aconteceu frente à holanda, serão centrais
grandes, fortes, mas de pouca agilidade e ‘jogo de cintura’, que terão
dificuldades em acompanhar as mudanças de direcção e arranques de velocidade
que caracterizam o jogo de ronaldo.
se paulo bento parece ter, ou querer habituar a equipa
portuguesa a viver com a inoperância defensiva de cristiano ronaldo, também a
terá ensinado a aproveitar as vantagens que isso traz quando a selecção tem a
bola e é preciso atacar. é para aí que se deve olhar, e não para o que os
checos crêem que vão beneficiar.