Os que ficaram pelo caminho, e não mereciam

Entre os 48 jogos que se disputaram ao longo da fase grupos, houve muitos intérpretes que se destacaram por bons motivos, por carregarem nos pés bom futebol, que trouxeram deleite aos olhos de adeptos e amantes de futebol. Nos quartos de final, porém, só houve espaço para oito equipas, nem todos os jogadores lá estão.…

luka modric: o
pequeno génio croata, o cérebro da estratégia da equipa balcânica, que elogios
recolheu para cedo saiu do europeu. os que faz com a bola nos pés não fica
atrás das parecenças que quase o fazem ser um clone físico de johan cruyff, a
antiga lenda holandesa. por ele passaram quase todas as bolas que a croácia
queria fazer chegar à baliza adversária. de cabeça levantada e com calma, era
em modric que a bola mais descansava em companhia croata, e de onde saia com
destino sempre certo para os pés de outro companheiro.

no último jogo, frente à espanha, mostrou também a sua
velocidade, dando à equipa mais uma hipótese para sair rápido em jogadas de contra-ataque,
e vários estiveram muito perto de acabar em golo. a sua selecção sofreu o
resultado de um sorteio azarento, ao ter ficado no mesmo grupo que italianos e
espanhóis. há quatro anos no tottenham, merece comandar o meio campo de uma
equipa europeia com maiores ambições.

mario mandzukic:
à frente de modric, no ataque croata, este avançado conseguiu em três jogos
marcar outros tantos golos. chegou ao europeu não tão conhecido o outro
avançado da equipa, nikita jelavic, do everton, mas sai com os holofotes mais
virados para si.

a sua rapidez, mobilidade e técnica nos pés surpreenderam
para alguém com 1,86m de altura. só aos 24 anos é que saiu do dinamo de zagreb
para o campeonato alemão, onde chegou com o papel de substituir edin dzeko, no
wolfsburgo. os adeptos do clube germânico não se deverão queixar. se já o
tiverem feito, mais se queixarão se o avançado abandonar o clube este verão,
face à boa imagem e exibições que deixou no europeu.

yevhen konoplianka:
perdido no dnipro, da ucrânia, está ainda este extremo de 22 anos. colado à
linha lateral esquerda do ataque dos anfitriões, konoplianka é um típico médio
rápido, que teima em conduzir a bola para o lado do seu pé predilecto, o
direito. os adversário não demoram a perceber esta tendência, e o que
surpreende é que, uma e outra vez, é o ucraniano que fica com a bola, até
arranjar espaço para rematar à baliza adversária.

será precisamente no remate que ainda tem que melhorar. é
forte e potente, mas ainda passa ao lado do alvo por demasiadas vezes. isso e
melhorar a sua imprevisibilidade, que terá de ser outra quando estiver num
campeonato mais exigente. porém, era a energia que electrificava a equipa
ucraniana e a esticava para o ataque. nem a soma milionária que o dnipro pede
pelo seu passe – a equipa é treinada por juande ramos, antigo técnico do
tottenham e sevilha -, deverá impedir konoplianka de se mostrar-se em relvados
mais no ocidente europeu.

michael krohn-dehli:
a selecção portuguesa já o conhecia. foi dele um dos golos que nos derrotou no último
encontro da fase de qualificação para o europeu, e nos obrigou a disputar o playoff de apuramento. a sua melhor fase
chegou aos 29 anos, hoje de novo no brondby, clube da ‘sua’ dinamarca, após
cinco anos em que pouco jogou no campeonato holandês.

alia à rapidez uma preocupação para fazer tudo certo em cada
acção que faz. marcou dois golos neste europeu e deu outro a marcar, e foi
sempre uma das armas que manteve os dinamarqueses até ao fim na corrida pela
passagem aos quartos de final.

roman shirokov:
outro que está a reclamar atenções tardiamente na sua carreira. aos 30 anos, o
russo finalmente assumiu um papel de destaque no meio campo da sua selecção. a
frieza com que a bola permanece colada nos seus pés impressiona tanto como a
sua capacidade de se aproximar da área adversária para tentar remates à baliza.

marcou cinco golos esta época na liga dos campeões pelo
zenit e um outro neste europeu, onde pecou do mal que afectou quase toda a
selecção russa: a excessiva lentidão e calma. surpreende ainda mais o facto de,
durante grande parte da sua carreira, ter sido utilizado, de recurso, como
defesa central. foi nessa posição, por exemplo, que disputou e venceu a final
da liga europa com o zenit, em 2008.

alan dzagoev: no cska de moscovo, tem funções de organizador de jogo, de número 10, o homem em que a bola sempre tem que passar. tudo com 22 anos. na selecção russa que teve no europeu, foi encostado à direita. não tem a rapidez de um extremo, mas ainda assim conseguiu marcar três golos, e assim ainda é um dos melhores marcadores da prova.

tanto os russos como os moscovitas encaram dzagoev como a principal esperança do futebol do país, esperando-se que irrompa pelo marasmo que já começa a notar-se numa geração trintona.

jakub blaszczykowski:
o seu difícil nome é simplificado na alcunha de ‘kuba’, que adoptou no futebol.
o capitão da selecção polaca não chegou ao europeu como um desconhecido – foi
muitas vezes titular nas duas últimas épocas no borussia dortmund, bicampeão
alemão.

liderando uma equipa, anfitriã da prova, da qual pouco se
esperava, conseguiu aguentar a polónia na luta pelos ‘quartos’ até aos últimos
minutos da fase de grupos, muito por culpa, por exemplo, do golo que marcou à
rússia, um dos melhores que ficará na história deste europeu.

aos 26 anos, partilhou com os seus companheiros a garra e
raça que abundavam na equipa, mas a sua rapidez na ala direita não foi
suficiente para levar o país ao seu objectivo, que era escapar ‘com vida’ à
fase de grupos. já se fala no interesse do liverpool na sua contratação.

diogo.pombo@sol.pt