«não acredito que a restrição ao crédito vá mudar muito no futuro. aplaudimos as medidas anunciadas mas, na prática, sabemos que quando uma empresa vai pedir financiamento a resposta é quase sempre não», diz ao sol, nuno carvalhinha, presidente da associação nacional das pme (anpme). «99,9% das pme em portugal não tem crédito», garante o responsável.
até maio, os bancos portugueses já levantaram mais de 58 mil milhões de euros em verbas do banco central europeu ( bce), segundo dados do banco de portugal. o bcp e o bpi vão aderir já à linha de capitalização da troika e receber 4,5 mil milhões de euros. o banif só depois do verão é que irá recorrer aos capitais públicos. já o estado irá injectar 1,65 mil milhões de euros na cgd, o banco estatal que, segundo o programa de governo de passos coelho e o memorando da troika, tem a obrigação de funcionar como o braço financeiro para as pme, no âmbito da actual crise do crédito.
na semana passada, o ministro das finanças, vítor gaspar, afirmou que, após estas medidas, a banca portuguesa será das mais capitalizadas da europa e estará numa «posição favorável» para conceder crédito à economia.
nem bei, nem qren
nuno carvalhinha alerta que o corte do financiamento está não só a levar ao aumento das insolvências em portugal, mas sobretudo a «matar» projectos que têm sustentabilidade e que gerariam emprego. a associação refere ainda que empresas com apoio financeiro do quadro de referência estratégico nacional (qren) ou do banco europeu de investimento (bei) vêem o financiamento recusado pela banca portuguesa.
a banca estrangeira é a alternativa para o crédito de muitas empresas, uma opção, porém, cara e que só pme com alguma dimensão conseguem obter, adianta o responsável.
a anmpe defende um ciclo de fusões na banca nacional – «é preferível ter três bancos fortes que dez fracos» – e lembra que mesmo os apoios às empresas exportadoras são escassos, apesar das vendas ao exterior ser um desígnio do actual governo.
«mesmo que o nível de concessão de crédito aumente para as pme, nunca voltaremos aos níveis anteriores à crise», adianta patrícia sousa, directora-geral da nbb, consultora especializada no segmento das pme. os limites impostos pela troika à alavancagem da banca até 2014 e a subida dos custos de financiamento dos próprios bancos não vão permitir libertar mais dinheiro. «as empresas estavam e continuam a estar muito dependentes da banca; nunca exploraram outras fontes de financiamento, pois nunca sentiram essa necessidade em função da facilidade no acesso à fonte tradicional», remata.
as alternativas para as pme podem passar por processos de fusões e aquisições entre si, parcerias nacionais e internacionais ou a abertura do seu capital a investidores financeiros ou estratégicos, diz a nbb.