Grécia: o resultado extraordinário

Não há nada que me surpreenda nas características que costumam ser atribuídas ao modo de estar e de agir dos dois partidos: o PSD dando mais a cara e o CDS sendo mais… digamos, reservado.

1. como comenta o resultado das eleições na grécia?

acho o resultado extraordinário. apesar de tudo, os partidos que defendem o acordo com a zona euro têm maioria para formar governo. apesar de tudo, ficou em primeiro lugar a nova democracia.

quando digo apesar de tudo, refiro-me:

1 – à situação económica e social que se vive no país;

2 – às desilusões com anteriores governos dos partidos que,vão ser chamados, de novo, a essas responsabilidades;

3 – à dose torrencial de propaganda que ia dando como adquirida a vitória do syriza.

foi uma vitória da ideia de europa e do projecto da zona euro.

em minha opinião, durão barroso e van rompuy deviam ter ‘cantado’ mais a proeza que esse resultado representou.

tudo se conjugava para um domingo à noite complicado para a europa.

até tivemos notícia de massivos levantamentos de dinheiro das caixas multibanco, bem como das medidas de contingência de autoridades monetárias e financeiras para o caso de um quadro desfavorável.

como se sabe, alexis tsipras era já dado como provável vencedor. quase todas as reportagens nesse sentido indicavam e as imagens dos seus comícios eram quase sempre as que encerravam os blocos noticiosos sobre as eleições gregas.

não sei o que vai ser o futuro da grécia. mas esta resposta de domingo deverá ser muito encorajadora e desafiante para os líderes dos outros países da zona euro e da união europeia em geral.

o voto dos eleitores gregos constitui, sem dúvida, um notável acto de esperança.

2. como viu a maioria socialista nas eleições francesas?

a maioria socialista nas eleições francesas era uma probabilidade bem maior do que o resultado que se verificou na grécia. se o syriza tivesse ganho, muito iria mudar na europa. assim, os ventos de mudança soprarão com menos intensidade, diminuindo o efeito hollande.

ventos, ventos sobre a europa sopram das economias de outras regiões do globo, como ainda agora aconteceu durante a cimeira do g-20. o ponto a que se chegou: mitt romney ainda pode ser presidente dos eua à conta das indecisões dos líderes europeus!

ninguém contava era com o episódio da primeira dama e de ségolène royal. sem mais comentários, não é nada bom presságio para o ciclo hollande.

o partido socialista francês tem muitas personalidades de vulto. por exemplo, laurent fabius está como ministro dos negócios estrangeiros, martine aubry continua como secretária-geral, segolène já não vai ser presidente da assembleia nacional porque não foi eleita deputada mas não vai ficar parada (apesar da grande derrota que teve). entretanto, bernard delanoé, maire de paris, anunciou alto e bom som que falou horas com o novo presidente, mas decidiu não entrar no governo.

tenho ideia de que o ps francês vai tirar muito tempo de trabalho ao novo presidente de frança.

3. como vê o estado actual da coligação psd/cds ao fim de um ano de vigência?

passado um ano, a coligação psd/cds está, em minha opinião, como nasceu: fria e determinada.

naturalmente, nenhuma coligação de governo nasce e vive entusiasmada por ter de aplicar um programa tão exigente.

não há nada que me surpreenda nas características que costumam ser atribuídas ao modo de estar e de agir dos dois partidos: o psd dando mais a cara e o cds sendo mais… digamos, reservado.

ao fim e ao cabo, é a história das coligações de governo entre os dois partidos. a única exceção que conheci foi a da ad inicial, com francisco sá carneiro e diogo freitas do amaral.

tudo isso tem de ser compreendido, especialmente porque o cds sabe que nunca beneficiou eleitoralmente de experiências de governação com o psd.o momento que o país vive exige altruísmo e não calculismos – mas acreditemos que todos estão a ser altruístas, cada um à sua maneira.

um ponto muito positivo deste entendimento é o facto de o primeiro-ministro e o ministro dos negócios estrangeiros estarem a trabalhar muito bem a frente económica externa, procurando desbravar novos mercados – como se comprova na viagem de pedro passos coelho pela américa latina.