Fala para todos

Numa mensagem ao Congresso Eucarístico Internacional em Dublin, o Papa Bento XVI afirmou que os casos de pedofilia no clero «minaram a credibilidade da mensagem da Igreja».

«como podemos explicar», questionou, «que as pessoas que recebem regularmente o corpo de cristo e confessam os seus pecados no sacramento da penitência, tenham cometido estas ofensas? é um mistério. contudo, tudo prova que o seu cristianismo (…) se tinha tornado apenas uma questão de hábito». com estas palavras, bento xvi não está só a descrever o mau sacerdócio, mas o mal de quem perverte as suas obrigações. aplica-se à fé, mas também ao esquecimento dos nossos deveres, que fazem parte das nossas escolhas. qualquer trabalho, ideologia ou crença têm um objectivo que transcende a individualidade. o esquecimento desta regra básica leva à indiferença e ao egoísmo. e assim temos maus sacerdotes, maus profissionais, maus políticos, más pessoas.

o mundo do desporto

em geral, não há justificação para actos violentos. mas há atenuantes nos sistemas judiciais de todos os países: autodefesa, alteração do estado emocional, reacção a ameaças, insultos repetidos, stress elevado e outros. no desporto, são vários os casos em que os jogadores cometem actos de violência extra desportivos. lembro-me de cantona e do seu famoso golpe de karaté a um espectador ou de joão vieira pinto, no mundial da coreia, a dar uma cotovelada ao árbitro. há dias, vi o tenista david nabaldian a dar um pontapé a um juiz de linha que estava sentado no seu lugar. o juiz ficou ferido na perna. o jogador foi desclassificado na final, vai ter de pagar uma multa e talvez mais tarde seja processado pelo agredido. fora do âmbito desportivo, estes excessos seriam avaliados em tribunal. a pergunta é se perder um break point poderia ser uma atenuante ou se, pelo contrário, seria um motivo de agravamento da pena.

e foi mesmo

poucas pessoas não conhecem a história de lindy chamberlain. em 1980 foi acampar com o marido e os filhos em uluru, no norte da austrália. uma noite, foi ver a filha, azaria, na tenda e viu um cão selvagem a fugir. ninguém, a não ser o marido, acreditou nela. em 1982, foi condenada a prisão perpétua por ter assassinado a filha. o marido também foi condenado a 18 meses de prisão por encobrir o crime. a opinião pública australiana há muito que condenara lindy, sem querer saber do desleixo da investigação e da falta de provas. após vários apelos, só em 1986 foi libertada. lindy continuou a investigação. exigia que se provasse que dissera a verdade. há semanas lindy recebeu um certificado a comprovar que um dingo levou azaria. uma pessoa estava certa sobre a verdade. tem por fim a realidade do seu lado: o único conforto possível perante a morte horrível da filha. lindy tinha a verdade do lado dela. agora conseguiu ter a paz.

sozinho é mais difícil

jonah lehrer é o mais recente colunista da revista the new yorker. o autor de proust era um neurocientista escreve sobre questões científicas relacionadas com a mente e a imaginação. num artigo recente apresenta uma teoria contra a possibilidade do autoconhecimento. ao contrário do que se imagina, as pessoas mais inteligentes fazem avaliações mais precipitadas. o exemplo é a resposta errada recorrente a um problema de aritmética simples. mas as pessoas menos inteligentes também não respondem melhor. a questão é que a resposta certa vem de quem está de fora, porque a pessoa que pensa normalmente não o está realmente a fazer, mas a tomar uma série de atalhos preguiçosos para dar a resposta depressa. não pensar ou pensar erradamente a respeito de si é, segundo lehrer, parecido com este mecanismo. diria que está certo. sem os outros, é mais difícil fazermos uma avaliação correcta e justa de nós mesmos.

só política

há dias caiu o carmo e a trindade em frança. o motivo foi um tweet venenoso de valérie trierweiler, companheira de françois hollande, a apoiar olivier falorni, o candidato opositor a ségolène royal, ex-mulher do actual presidente da frança. os assuntos domésticos excitam a imprensa em qualquer parte do mundo e frança nunca seria excepção a esta regra. foram logo desenvolvidas teorias escaldantes em torno da ciumeira que valérie teria da antecessora, apesar do lugar conquistado por hollande. por mim, só me espanta o despique pela mosca morta presidencial. o que terá françois para merecer esta guerra? mais uma prova de que as mulheres são misteriosas, mas os homens não ficam atrás. ou talvez tenha sido só política. ao contrário do que a imprensa francesa previa, ségolène royal não foi eleita e valérie trierweiler ganhou. é natural. é próprio da primeira mulher não vencer. há coisas que simplesmente não existem.