Pronúncia do Norte chega ao Alentejo

Um mundo feito de ideias preconcebidas é coisa que não entra na cartilha dos enólogos, sempre à procura de inovação, de sabores e aromas que possam resultar de uma casta ou da misturas de castas, com personalidades tão diferentes consoante o seu berço e o sol que as ilumina.

quem, por exemplo, ouse afirmar que a casta alvarinho tem morada certa na região do vinho verde ou que a touriga nacional é propriedade do douro, e um pouco também do dão, encontrará entre os enólogos olhares de reprovação.

com efeito, a grande maioria das pessoas estão longe de imaginar que a casta alvarinho dê vinhos verdes em pleno alentejo e que a touriga nacional faça as malas rumo a àquelas tórridas planícies, mas a realidade tira todas as dúvidas. a serra de ossa, em pleno alto alentejo, é a chave deste mistério. desde os seus 653 metros de altitude, e para quem caminhe para norte, vai apanhar os solos xistosos, depois solos calcários, seguindo-se os argilosos e, finalmente, solos graníticos. é neste universo de tão marcantes diferenças que as castas alvarinho e touriga nacional têm vingado, mostrando, no entanto, outros sabores. se provar um alvarinho de monção ou de melgaço e o comparar – fazendo uso dos sabores armazenados na sua memória – com um de borba, por exemplo, verificará que este último é mais tropical e menos cítrico.

mas por que não fazer as suas próprias experiências? a adega de borba apresenta-lhe na gama senses (mais virada para as garrafeiras e para a exportação), o senses alvarinho e o senses touriga nacional que lhe abrirão as portas para uma outra face destas duas castas recentes em terras alentejanas. o touriga nacional 2010, com 13,5% de teor alcoólico, pode ser consumido já ou ser guardado até seis anos, sendo óptimo para acompanhar um borrego bem condimentado. faça novamente uso da sua memória e verá que ao nariz lhe chegam notas florais de violetas, afinal o mesmo que acontece com a casta quando ela cresce no longínquo douro. beba também o senses alvarinho 2011 e usufrua da sua frescura. tem 13,5% de teor alcoólico e é companheiro ideal para peixes gordos grelhados e marisco bem condimentado. depois das provas, verá como o enólogo responsável, óscar gato, tinha razão para se aventurar nestas experiências.

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