Sushi de garfo e faca

Acha mal irmos comer sushi e pedirmos garfo e faca? Maria Emília Aboim.

em roma sê romano – eis um bom princípio. seguramente, os japoneses não querem que se seja romano em tóquio, e os italianos não têm interesse em que se seja japonês em roma. podemos, se quisermos, fazer um esforço; mas mais pelo pitoresco, talvez por querermos ostentar cosmopolitismo, do que por outra coisa.

portanto, leitora, não faça a menor cerimónia em pedir garfo e faca, por comodidade, quando resolver deliciar-se com sushi aqui pelo ocidente.

quem andou pela china sabe que ali é de bom tom sorver ruidosamente a sopa e sujar a toalha em redor. mas nem por isso nós, quando vamos aqui a um restaurante chinês, sorvemos a sopa com algazarra ou pingamos a toalha toda. lá, sim – mas não no ocidente. e agradecemos até aos chineses que por cá se coíbam desses seus costumes de cordialidade local.

de resto, quanto ao sushi, segundo consta, foi criado como um alimento de consumo rápido, que por isso se comia à mão – como muitos japoneses tradicionalistas ainda fazem.

portanto, não faz o menor sentido acharmo-nos obrigados a usar pauzinhos (os hashi) com o sushi, aqui na nossa terra.

de resto, a utilização dos hashi exige destreza. é seguramente mais ridículo empunhar uns hashi sem à-vontade, de forma enferrujada, do que uns talheres ocidentais numa discreta perfeição. isso não significa também que não possamos pedir e manobrar os pauzinhos – se gostarmos de os usar e soubermos fazê-lo…