Três eleições

Domingo à noite, enquanto aguardava o episódio do Spartacus que, com o Game of Thrones, faz parte das minhas devoções, fui ‘zapando’ entre notícias de eleições.

primeiro as gregas: os misteriosos mercados pareciam mais contentes nas vésperas do fim-de-semana, com a possível vitória da nova democracia, face à terrível syrisa. e as notícias vinham nesse sentido. embora não se descortine como é que, mesmo com uma absolutíssima maioria, um qualquer governo grego possa alguma vez pagar as dívidas contraídas desde a eufórica entrada no euro, que encheu o país de dinheiro e deu cabo da sua competitividade. não me parece que seja possível resolver a questão da eurolândia sem que alguma entidade credível assuma a responsabilidade de responsável pagador de última instância.

em frança as eleições mostravam outros misteriosos mecanismos da democracia eleitoral: o partido socialista é agora dono e senhor do estado – da presidência, da assembleia nacional, do governo, de parte das regiões e dos governos das grandes cidades; todos os partidos de esquerda têm representações parlamentares significativas. mas a frente nacional, com uma votação de 18% nas presidenciais e 13,6% nas legislativas, elegia apenas dois deputados nos 577 da assembleia.

no egipto, a escolha era entre ahmed shafik, um general da força aérea na reserva, ligado ao governo de mubarak e mohammed morsi, da irmandade muçulmana, os dois candidatos passados à segunda volta. havia dúvidas e tensão. no momento em que escrevo, a irmandade muçulmana proclamava a vitória do seu candidato com 51,5% dos votos, contra os 48,5% do general. logo a seguir, o supremo conselho das forças armadas alterou as competências políticas da presidência. no curso da semana tinha havido dissolução do parlamento e o prolongamento da lei marcial.

moral da(s) história(s): desde que a democracia se tornou regra geral e única da legitimidade do poder e se expandiu das áreas tradicionais, onde tinha condições naturais de existência e funcionamento, para outras paragens, ou quando o seu normal funcionamento cria problemas de visibilidade aos estados e aos interesses dominantes, é tão manipulada e manipulável como qualquer regime menos correcto.

os gregos não puderam fazer um referendo – mas tiveram que votar até acertar. em frança, todos os partidos são iguais, mas a frente nacional é menos igual que os outros e os seus representantes precisam, cada um, de mais de dois milhões de votos. os egípcios podem escolher o presidente mas, se vier da irmandade, os militares permitem-se tirar-lhe poderes e manter o país sob tutela.

mas como dizia a personagem da história (que outra vez contarei) «el periodista vá a la cárcel, pero la democracia continua»…