Médica queixa-se de assédio moral

Foi há dois anos que Fernanda Ferrão, médica anestesista no Hospital Arcebispo João Crisóstomo, em Cantanhede, começou a sentir-se ‘perseguida’ por parte do conselho de administração (CA) da altura.

tudo começou com a instauração de um processo disciplinar por não ter assinado uma folha de alta dos doentes – alta da qual não lhe foi dado conhecimento, sendo que costumava ser apenas o cirurgião a assinar a folha.

o processo disciplinar acabou arquivado por falta de provas. mas iniciou-se aí o desgaste psicológico que levou a anestesista a tomar medidas. «apresentei queixa à ordem dos médicos (om) e ao sindicato independente dos médicos (sim), e vou levar isto para tribunal», conta ao sol. «na próxima semana, dará entrada no tribunal a queixa por discriminação e assédio psicológico», revela.

fernanda ferrão diz que a situação a perturbou de tal forma que teve de recorrer a uma consulta de psiquiatria, tendo sido medicada e atribuída baixa.

para trás ficavam vários episódios, como o indeferimento de pedidos de férias. após terminar a baixa e durante algum tempo, a anestesista – que está no quadro daquele hospital há 12 anos – não tinha doentes agendados para consulta. isto «enquanto uma anestesista contratada fazia o meu trabalho» , lembra. a direcção clínica da altura comunicou-lhe ainda que deixaria de ser necessária no bloco, devendo cumprir o horário na consulta externa, quando o seu horário era somente de bloco.

a situação de fernanda ferrão só mudou com a entrada do novo ca, há duas semanas: «todos os problemas ficaram resolvidos». o actual presidente do ca do hospital não quis comentar o caso.

em portugal, segundo os sindicatos médicos, este tipo de queixa não é frequente. «é difícil quantificar as situações porque as pessoas têm dificuldade em reagir frontalmente e em apresentar queixa», referiu ao sol mário jorge neves, da fnam. mas, segundo andré biscaia, médico que fez um estudo sobre a violência contra os profissionais de saúde no local de trabalho, «calcula-se que cerca de 50% dos profissionais de saúde sofram pelo menos um episódio de violência física ou psicológica em cada ano».

a autoridade para as condições do trabalho (act) está precisamente a desenvolver uma campanha que abrange mais de 200 instituições do sector da saúde. trata-se da campanha de avaliação de riscos psicossociais, iniciativa que envolve 27 estados-membros e que ocorre numa altura em que se verifica um aumento no número de autos de notícia levantados pela act, de assédio no local de trabalho em geral (assédio moral, sexual e violação do dever de ocupação efectiva dos trabalhadores). em 2011, registaram-se 140 autos, face a 79 em 2010 e 77 em 2009.

liliana.garcia@sol.pt