Egos nos pés sem cabeça

Os egos e feitios individuais começaram por sobressair logo nas equipas que cedo se depararam com derrotas. E para quem vestia de laranja, acabou mesmo por ser fatal. A Holanda despediu-se do Europeu sem nunca mostrar a mecânica que a tradição alia ao seu nome: a ‘laranja’ saiu só com derrotas e com apenas dois…

klaas-jan huntelaar, que durante a época marcou mais de 30 golos no schalke 04, não gostou de ser preterido da equipa titular nas primeiras duas jornadas do torneio, nas quais o técnico bert van marwijk optou por colocar na área robin van persie, que também chegara ao europeu com mais de três dezenas de golos marcados, no arsenal.

logo antes do primeiro encontro, com a dinamarca, huntelaar admitiu a frustração: «já disse que estou desapontado e irritado, mas prefiro manter a calma e continuar a trabalhar, não faz sentido falar», confessou. nesse dia, os holandeses remataram a bola 28 vezes em direcção à baliza, mas não conseguiram que acabasse no fundo das redes. «não temos de ser todos amigos para vencermos», avisou wesley sneijder antes das alterações do técnico para o terceiro e decisivo jogo, frente a portugal. huntelaar apareceu a titular mas foi o também suplente insatisfeito rafael van der vaart a marcar um golo e a assustar com outra bola no ferro da baliza de rui patrício.

mas há quem tenha estado mais tempo no relvado sem com isso deixar de ser um foco de tensão. é o caso de mario balotelli, que constituiu aposta arriscada de cesare prandelli, que decerto saberia que o contributo futebolístico de balotelli seria sempre acompanhado pela sua errática e polémica personalidade. ainda assim, o jovem foi titular nas duas primeiras partidas, e só à terceira o treinador teve a «ousadia» – aos olhos do avançado – de o deixar no banco.

contra a irlanda, quando a itália procurava a vitória que a apurasse para os quartos-de-final, balotelli acabaria por entrar em campo e fazer o segundo golo da equipa, o seu primeiro na prova. mas, em vez de o festejar, o jovem fixou o olhar no banco de suplentes até abrir a boca. já em alerta, o central leonardo bonucci apressou-se a tapar a boca do companheiro, o que viria a ter o reconhecimento de balotelli: «tomei conta dele num momento de exultação, e por isso agradeceu-me depois», disse bonucci ao contar que o «bom rapaz» que «por vezes faz coisas absurdas» vociferou algumas palavras em inglês fazendo com que o central não as percebesse. palavras que seriam visadas a prandelli, mas o certo é que o avançado só cumpriu o que lhe é pedido, marcar golos, no encontro em que esteve mais tempo sentado no banco do que a correr no relvado.

na selecção gaulesa, uma derrota no derradeiro jogo da fase de grupos, frente à suécia, provocou mais uma tempestade num balneário que se julgava calmo e estável, após a polémica do mundial de 2010. o primeiro a insurgir-se foi ben arfa, e logo contra laurent blanc, o seu seleccionador – e terá até ameaçado abandonar a selecção francesa. depois, o l’équipe falou nas alegadas queixas de karim benzema, que após o jogo afirmou não conseguir marcar golos sem bolas na grande área.

samir nasri e alou diarra também terão protagonizado uma acesa discussão. mas um «duche frio» arrefeceu um balneário repleto de «electricidade», segundo palavras do próprio técnico.

a polémica não fugiu nem aos anfitriões: quando se preparava para marcar o último livre da polónia no ‘seu’ europeu, ludovic obraniak nem queria acreditar quando o marcador das substituições indicava o seu número. o especialista polaco nas bolas paradas contestou a decisão do seu técnico até à linha lateral e já fora do terreno de jogo recusou-se a cumprimentá-lo. mais tarde, pediria desculpa: «as minhas emoções estavam completamente fora de controlo».

por último, nem o que terá sido o melhor golo do euro conseguirá apagar a turbulência que zlatan ibrahimovic provocou na selecção da suécia. logo no intervalo do primeiro encontro – que acabaria numa derrota frente à ucrânia –, o capitão escandinavo mostrou o seu descontentamento com a exibição de markus rosenberg, que então jogava ao seu lado. a estrela levou a melhor e no segundo jogo já foi elmander a fazer-lhe companhia no ataque, mas nem isso evitou nova derrota, frente aos britânicos. seria então já com a suécia eliminada que ibrahimovic deixaria a sua marca, com um golo fabuloso frente à frança.

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