Alternativa diabólica ou nem sequer

O euro carrossel continua. Nesta terça-feira dou mais uma olhada aos ecrãs televisivos do Bloomberg e da CNBC, que dão o estado de saúde de suas majestades os mercados e vejo no Financial Times um grande título a cinco colunas de largura – «EU plan to rewrite budgets»’.

no corpo da notícia confirmo que se trata do rascunho de um relatório, a que o ft teve acesso, nas vésperas da cimeira dos dezassete da eurolândia a 28 de junho, em bruxelas. mais uma das intermináveis reuniões de topo que, até hoje, não trouxeram nenhuma solução. (à hora de me lerem os leitores saberão se trouxe, mas seria a primeira vez).

há também, como de costume, mais um bouquet de más notícias a preparar a sessão: chipre também pede socorro à ‘comunidade internacional’ financeira, já que os seus bancos, expostos ao buraco grego, estão em dificuldades; a dívida espanhola a curto prazo atingiu os juros mais elevados do ano, enquanto a moodys baixou o rating de 28 bancos espanhóis. e o ministro das finanças do novo governo grego de coligação, demitiu-se, o que não é muito importante, mas soma aos agouros.

claro que de todas estas notícias, as mais graves são as que vêm de espanha. chipre é uma minor quantity e já ninguém acredita muito na permanência dos gregos na eurolândia.

fui ler o conteúdo do draft, cujos redactores terão sido quatro eurocráticos pesos pesados – van rompuy, durão barroso, mario draghi e jean-claude juncker. trata-se de mais uma daquelas propostas, em estado de necessidade em que, para as criaturas no meio do mar proceloso e em vias de afogamento, se propõem vários tipos de bóias e salva-vidas cujo recurso e utilização são estritamente regulamentados. e ficam condicionados à vontade expressa de fazerem cursos de natação num futuro próximo.

e é claro, os alemães só pagam (e vamos a ver se pagam), se mandarem. quer dizer, mesmo que o projecto consiga as complexas aprovações dos benfeitores e dos assistidos (tratando-se de estados democráticos, seguem-se várias instâncias de audição para a construção e manutenção de consenso), em última análise, se tudo for aprovado, berlim passará a ter um droit de regard e mais que isso, um veto orientativo sobre os orçamentos dos países da eurolândia.

chama-se a isso, no mundo moderno, em que o dinheiro é o sangue dos estados, ter o controle sobre os estados-membros da europa que ratificarem o pacto e aceitarem essas condições.

os estados que o fizerem, perdem a independência política.

assim, ao fim destes quase 40 anos de regime, temos como alternativa a bancarrota financeira ou o desaparecimento político. com o nosso jeito e sorte do costume, talvez nos calhem mesmo as duas.