os números da execução orçamental dão que pensar a todos. mas devem dar, sobretudo, ao ministro das finanças. quando não se atingem objectivos, é sempre muito complicado – seja numa empresa privada, seja, por maioria de razão, no governo.
quando sobem só as receitas do irs e baixam as de vários outros impostos, nomeadamente do irc, do iva, do imposto sobre o tabaco, do imposto sobre os produtos petrolíferos, há que ponderar. matar empresas com a austeridade e não atingir, mesmo assim, os objectivos que se pretendiam, pode desmoralizar muito o país.
é na união europeia (este artigo é escrito antes do conselho europeu) que está grande parte da solução. sem qualquer intuitus personae, há que registar um défice de liderança na união europeia. nenhum de nós fica contente por essa liderança não se manifestar de forma eficaz. todos preferiríamos que durão barroso ou van rompuy assumissem a iniciativa e definissem um caminho preciso.
2. como viu a cimeira (a quatro) que antecedeu este conselho europeu?
cimeiras a quatro, como a que aconteceu entre a espanha, a alemanha, a frança e a itália, não fazem qualquer sentido.
antes eram cimeiras a dois. agora, como saiu sarkozy e há diferenças entre merkel e hollande, são mais dois. estes correspondem a duas grandes economias de dois grandes países – mas um está a ser resgatado e outro para lá caminha. que sentido faz anunciar mais 130 mil milhões de euros? podem anunciar o número que quiserem… a questão está em saber onde e como se aplica o dinheiro. um novo plano marshall? chamem-lhe o que quiserem, mas tem de se saber para que projectos, para que investimentos, com que taxas de juro, com que bonificações e outros estímulos, em que sectores. ainda não deu para perceberem que assim não se vai lá? anuncia-se dinheiro para a banca espanhola num dia e os mercados caem no dia seguinte. ainda não deu para entender?
3. cavaco silva voltou a ser vaiado. como deverá reagir o presidente da república: continuar a expor-se ou resguardar-se mais por uns tempos?
por falar em cavaco silva, devo esclarecer, sobre o que escrevi na passada semana, a propósito da altura das cadeiras do presidente da república e do presidente da câmara de lisboa, nas cerimónias do 10 de junho, que me enganei. na verdade, fui esclarecido por quem de direito que o presidente da república tem cadeiras de altura sempre igual às dos seus anfitriões nos dias 10 de junho.
quanto a esta questão, penso que cavaco silva deve ser igual a si próprio. proteger-se demais é um erro, expôr-se em demasia não faz sentido. estamos numa altura muito difícil, e os mais altos responsáveis têm de saber dar a cara.
manda a verdade dizer que o presidente da república, nestas recentes ocasiões em que foi vaiado, tem mostrado uma expressão nada incomodada e com bastante fairplay. fica-lhe bem! mas um presidente, também por respeito à sua função, não deve colocar-se em situação de ser objecto de protestos exagerados. compreende-se a revolta das pessoas, mas também se sabe que várias dessas manifestações são organizadas normalmente pela mesma força sindical. está no seu direito! mas ainda não vi nenhuma manifestação de milhares de pessoas. e de centenas (poucas) talvez só uma: na póvoa de varzim. julgo que cavaco silva já estará mentalizado para a forte probabilidade de isto lhe acontecer várias vezes nos tempos
que aí vêm.
4. como vê a prestação da selecção no europeu?
pelo tempo de jogo regulamentar, portugal merecia ganhar. pelo prolongamento, não digo o mesmo. penáltis, já se sabe como são.
nos 90 minutos, portugal anulou o jogo espanhol e chegou a superiorizar-se. no prolongamento, apesar de termos tido mais dias de descanso, sentiu-se o facto de serem utilizados, sempre, os mesmos jogadores. a nossa selecção caiu muito fisicamente.
no cômputo geral, portugal teve uma fantástica participação e só temos razões para nos sentirmos satisfeitos e orgulhosos.
melhor jogador do europeu: de longe, cristiano ronaldo. melhores jogadores de portugal, depois de ronaldo: pepe e fábio coentrão. impressionantes os dois. mas estão todos de parabéns: jogadores, seleccionador e demais elementos da selecção.