só não compreendo por que razão, a partir de julho, as entradas são cobradas de acordo com a nacionalidade dos visitantes. os portugueses pagam três euros e os estrangeiros, cinco. a diferença desagradável já existe na casa museu em lanzarote, que cobra dois euros aos autóctones e oito aos restantes cidadãos do planeta. o problema da cobrança baseada na geografia é, afinal, tornar doméstico um autor que foi premiado por ser universal. saramago não é só português, muito menos de lanzarote: pertence ao mundo, como é próprio de um grande escritor. um australiano pagar quase o dobro do que paga um português para entrar na casa dos bicos cheira ao conto do turista que paga mais pelo mesmo. nada de novo. só que dantes não era institucional.
inspirem, expirem
li no jornal i que a delegação do algarve do sindicato dos trabalhadores dos impostos vai realizar uma formação de defesa pessoal para os funcionários das finanças aprenderem a lidar com situações de perigo. há semanas, um funcionário das finanças de lagos foi agredido quando saía de casa e, no ano passado, o carro de outro, dos serviços de faro, foi incendiado durante a noite. trabalhar para as finanças é, sem dúvida, delicado e até perigoso nos dias que correm, mas penso que a decisão do sindicato é precipitada e inútil. ter havido dois incidentes, cada um em cidades diferentes, no intervalo de um ano, não é um dado dramático. qualquer empregada de caixa de uma grande superfície arrisca mais a pele, sobretudo nos dias de saldos. por outro lado, de que servirá a mestria nas nobres artes marciais quando nos incendeiam o carro? só se for para uma vingança ilícita. pensem noutra coisa e não se deixem levar pelo pânico.
lembrar bem e comer melhor
jantei há dias no doca 6, que fica a meio da zona dos restaurantes das docas de santo amaro. é um restaurante que combina a informalidade com a muito boa cozinha. como não podia deixar de ser, tem uma esplanada em frente à marina, perfeita para as noites mais quentes. tem também duas salas bem decoradas no interior. na do primeiro andar encontrei uma série de quadros da autoria de luís miguel castro, designer gráfico cujo trabalho admiro desde a saudosa revista kapa. todos são retratos de personalidades portuguesas criados com ternura e humor. do grupo fazem parte, como não podiam deixar de fazer, amália, eusébio, camões e outras figuras proeminentes. um dos retratados é miguel esteves cardoso, com fundo de o independente e ppm. fiquei surpreendida e ficámos, o carlos e eu, comovidos com o encontro inesperado. como se fosse pouco, a garoupa ao sal estava tão boa que de certeza foi feliz em vida.
1,78 m
parece que começou o verão. vamos, por fim, mergulhar o esqueleto nas águas gélidas do atlântico e massajar os pés nas areias branquinhas da nossa bela costa. é no verão que nos libertamos das imposições do vestuário invernoso. despimos os casacões e arrumamos as botas para darmos as boas-vindas aos vestidinhos e às sandálias. ah, que saudades, meus amores. mas atenção à moda deste ano para os sapatos de senhora: são altos como o kilimanjaro. na lista dos 100 pares de sapatos considerados indispensáveis pela vogue inglesa, há uma ou outra sandália baixa, mas a maioria ultrapassa os dez centímetros. entendo esta tendência de moda como um grito de revolta contra as galochas usadas ad nauseam no inverno. havia que mudar um hábito que tornava ainda mais baixas as mulheres menos altas. nada que não se resolva com 12 centímetros de salto. é só por uns meses. depois volta tudo àquele rasinho das sabrinas.
cheira a lisboa
todas as cidades são más quando há uma greve dos trabalhadores do lixo. lisboa não é excepção. vimos bem os resultados da greve de há pouco: o lixo a transbordar do interior dos caixotes, o cheiro nauseabundo em ruas desafogadas, a cidade tornada uma autêntica lixeira a céu aberto. o sol dava nota de uma praga de baratas, o que não me espanta, embora não tenha tido nenhum encontro imediato de terceiro grau com a barata americana (grande), nem com a oriental (média), nem sequer com a germânica (pequena e fraca). baratas há sempre nesta cidade e aparecem nos sítios mais inacreditáveis, porque a limpeza da cidade há anos que vive tempos difíceis. tenho uma ideia: sempre que houver greve dos trabalhadores do lixo, a cml paga a outras pessoas para recolher os caixotes, enquanto negoceia as exigências dos grevistas. o dinheiro do imi, das taxas de esgoto, etc., têm de bastar para assegurar os serviços mínimos de limpeza da cidade.