as portas que se abriram na sexta-feira desbravaram o caminho para mercado negro começar a espalhar música pelo palco. os portugueses agitaram o que a belga selah sue viria a pausar um pouco, com o seu estilo mais calmo e assente na sonoridade da sua voz.
ao terceiro concerto do dia, à voz vinda do palco juntaram-se as de milhares de jovens que faziam por se ouvir a acompanhar richie campbell, que secundado pela 911 band mostrou que continua a moldar ao seu nome uma ascensão rumo ao estatuto de ícone da música reggae nacional.
a sua voz acordou definitivamente o público para os ritmos de reggae mesclados com influências de dancehall, uma junção com a qual bombardeou quem se encontrava diante de si.
os presentes, por sua vez, respondiam com gritos para entoarem canções como blame it on me ou everytime i cry, ambas do álbum my path, mas o uníssono desse acompanhamento seria mais evidente em that’s how we roll, o mais recente single do artista que tem ecoado em peso nas estações de rádio nacionais. richie campbell ainda voltaria ao palco por breves minutos com dj ride, o português que encerrou o dia inaugural do festival, preenchendo a ausência do previsto gui boratto.
sotaque e energia brasileiras
com pernas carregadas de energia e vozes ainda longe do cansaço, o público acolheria depois um dos pontos altos do festival, e quiçá não muito esperado. do palco emergiram os ponto de equilíbrio, conjunto brasileiro de reggae assente ritmos profundos e palavras de crítica social com raízes nas favelas do rio de janeiro.
com três álbuns editados – o último deles intitulado dia após dia lutando -, a banda de oito elementos teve em hélio bentes a sua cara. o vocalista aliou a sonoridade peculiar da sua voz, rouca e um pouco aguda, a movimentos em palco nos quais os mais atentos terão notado resquícios de bob marley.
o visual a isso ajudou: as longas rastas que caíam da sua cabeça, a forma como elevava uma mão enquanto entoava as letras das canções, os saltos algo descontrolados que iam abanando trivialmente os seus braços. um conjunto de sinais que os amantes do maior nome da música enraizada na jamaica terão reconhecido nos gestos do cantor brasileiro.
a mesma lufada de sons frescos e agitadores chegaria no sábado, quando gabriel o pensador entrou em palco. com um nome mais familiar para o público português, o artista convidou à dança com os ritmos, sim, mas antes mais com o engenhoso uso das palavras que compõem a crítica social das suas letras.
a isso estava habituada a massa do público, porventura a maior que se juntou durante o festival, que o ouviu e respondeu ao seu esforço por apimentar as suas canções por ritmos reggae, tão próprios do festival que o acolheu. a versão de could you be loved, de bob marley, reproduzida pela sua banda, atestou isso mesmo.
essa homenagem ficou entre temas que o notabilizaram por terras portuguesas e brasileiras. cachimbo da paz, 2,3,4,5,6,7,8 e até quando?, canção com que se despediu do palco e agradeceu o carinho evidente que recebeu de quem o recebeu.
horas antes, o palco que pisou fora já ‘aquecido’ pelo poder de barrington levy, a melodiosa voz jamaicana, com tiques soul e outros tantos, mas que se vai guiando principalmente pelo caminho dos ritmos reggae, por vezes abafados pelo poderio da sua voz, que tantas vezes abdicou do apoio dos instrumentos durante a sua actuação.
a ele precederam os soldiers of jah army (soja), banda norte-americana que regressou a portugal com o saudoso contraste entre a lentidão das batidas e as influências rock que mistura nos seus temas. o seu nome era um dos mais aguardados, e tal ficou notório nas vozes que se uniram para acompanhar, por exemplo, o tema rest of my life.
na sexta-feira, a última actuação da noite empurrada pelo reggae chegaria com alpha blondy, uma das referencias da música africana, assente nos seus mais de 25 anos de carreira, de onde se destacam a contribuição que usufruiu dos the wailers, a banda que acompanhou bob marley.
em inglês, hebraico ou num dialecto costa marfinense, temas como jerusalem, cocody rock e peace in liberia mostraram algumas das bases onde o artista sempre cimentou o seu êxito, acompanhados ainda por uma reedição de wish you were here, originalmente dos pink floyd.
temas sempre saudados por quem ouve, mas que mereciam uma actuação menos morna.
tanto o seu como alguns outros concertos do festival mereciam mais tempo em palco. para infelicidade de quem assistiu e esperava por mais, foram raras as actuações que deram mais de uma hora e quinze minutos de música, certamente por constrangimentos de tempo erguidos pela organização.
ainda que com a sensação de que ficou a faltar mais tempo de concertos, a quarta edição do sumol summer fest voltou a ser um porto de abrigo aos admiradores da música reggae. um local de louvar no calendário musical português, mas que beneficiará (e muito) se der mais minutos a quem convidar para agitar o palco e público que se deslocar à ericeira.