Alimentação: Super-heróis à mesa

Especialistas em alimentação destacam cada vez mais um conjunto de alimentos que se assumem como ‘super alimentos’, pelas suas acções na prevenção e até tratamento de doenças. Alguns têm nomes impronunciáveis e só se encontram em supermercados especializados; chegam-nos dos Estados Unidos, onde a ideia de que há alimentos poderosos ganhou forma há anos.

mas afinal não haverá ‘super alimentos’ de produção nacional, económicos e à mão de semear? os nutricionistas pedro carvalho e vítor hugo teixeira garantem que sim e reuniram-nos no livro 50 super alimentos portugueses: uma espécie de dicionário de produtos nacionais, cada um acompanhado da sua história e informação nutricional, e complementado com uma receita.

já o norte-americano joel fuhrman, cujo livro super imunidade também chegou agora às livrarias, elege ‘petiscos’ super-heróis para a saúde, mas numa perspectiva mais terapêutica.

as duas obras têm em comum o elogio a alimentos tão acessíveis como as cebolas, os cogumelos, os frutos vermelhos, as sementes, as leguminosas ou as hortaliças.

os nutricionistas são unânimes: são alimentos para usar e abusar. e haverá produto mais vulgar na cozinha portuguesa do que a cebola ou o alho? a primeira, por exemplo, «é muito rica em compostos que aumentam a imunidade», explica ao sol o naturopata joão beles e, como referem os autores de 50 super alimentos portugueses, tem um efeito benéfico «na densidade óssea nas mulheres, antes e depois da menopausa».

para joel fuhrman, os cogumelos parecem ser mágicos. o autor destaca-os como potentes anti-cancerígenos, o que é corroborado pela dupla de nutricionistas portugueses e joão beles.

são as variedades shiitake (comum em qualquer supermercado) e maitake as que mais resultados têm revelado na prevenção e combate de determinados tipos de cancro como o da mama, bexiga e próstata. joão beles dá o exemplo de um estudo feito no japão em pacientes com vários tipos de cancro que combinaram o maitake com o tratamento convencional. os resultados foram a redução dos efeitos secundários da quimioterapia em 90% e a dor em 83%.

heróis de capa vermelha

à mesa, a regra de ouro a nível nacional é continuar a apostar na sopa ao início das refeições. além do alho e da cebola, é aconselhável introduzir na base também cenoura, alho francês ou pimento e, para que a sopa seja mastigada e não bebida, deve incluir-se hortaliças, como espinafres, agriões, couve galega, ou leguminosas como o feijão, o grão ou as ervilhas, aconselham pedro carvalho e vítor hugo teixeira.

na hora de falar de fruta os super-heróis vestem capa vermelha. romãs, mirtilos, framboesas, amoras, morangos ou cerejas têm propriedades incríveis, concordam todos os especialistas ouvidos pelo sol. a sua composição estimula o sistema imunitário, protege o aparelho cardiovascular e previne o envelhecimento, explica joão beles. a romã «é muito provavelmente o fruto com maior potencial medicinal comprovado», escrevem os nutricionistas portugueses. tem a capacidade de ‘limpar’ os vasos sanguíneos, combate a disfunção eréctil e diminui a inflamação associada à artrite.

no prato, faltam as poderosas sementes. é certo que não são assim tão vulgares na alimentação portuguesa, mas qualquer prato comum do nosso dia-a-dia como a sopa, a salada, o peixe ou até mesmo a carne combinam bem com sementes de sésamo, girassol ou linhaça. por exemplo, para quem não come peixes como salmão, sardinha ou cavala, a linhaça é um bom substituto por conter elevados níveis de ómega-3, além de ter propriedades anticancerígenas.

mais habituais nas mesas lusas são os frutos secos, também considerados ‘super alimentos’. os nutricionistas sugerem, por exemplo, um punhado de amêndoas como aperitivo antes de qualquer refeição ou como petisco.

mal afamada, a carne recebe críticas de todos os especialistas, embora não seja unânime que deva ser eliminada. uma coisa é certa: o consumo de carne em excesso faz disparar a incidência de cancro. «até 30%», salienta o naturopata joão beles.

já pedro carvalho e vítor hugo teixeira não recomendam a eliminação total da carne da alimentação, mas nem sequer a referem no seu livro, pois «o seu consumo está acima do desejado».

mas não é preciso esquecer para sempre o bitoque.

andreia.coelho@sol.pt