Carrega, Macedo

A burla de que tivemos conhecimento na semana passada que terá lesado o Serviço Nacional de Saúde em muitos milhões de euros, com a participação de médicos e farmacêuticos, tem uma imoralidade acrescida ao banal crime de roubo.

a serem provados, os crimes são de extrema gravidade por terem sido praticados por quem abusou da confiança do estado para enganar e roubar. qualquer crime em que se prove existir abuso de confiança deve ser duplamente punido porque se baseia no aproveitamento da vulnerabilidade das instituições e das pessoas. este é um daqueles casos em que se justifica dizermos ‘não há direito’. não há direito de saquear um serviço pago pelos contribuintes, que serve para acudir à saúde de todos. li na edição do sol da semana passada que o ministro da saúde conta nesta tarefa com o apoio de uma especialista em fraudes, rosa sá, encarregada de fiscalizar as contas ignoradas ao longo de anos. é assim mesmo.

muitos parabéns

já se disse tudo a respeito do euro 2012 e da prestação da selecção portuguesa. do pior ao melhor, ouvimos o que se diz habitualmente nestas ocasiões: estivemos bem, mas continuamos a ‘pensar pequenino’. vi o jogo de portugal contra a espanha, com palpitações eusebianas nos penáltis, e não me apercebi desse ‘pensar pequenino’ de que se falou. vi, pelo contrário, uma equipa que jogou bem ao ponto de alguém que não se interessa nada por futebol ficar cativada com a beleza e a rapidez das suas jogadas. como afirmou vasco pulido valente, no público, aqueles jogadores são o resultado do seu trabalho lá fora, o que contraria a ideia de que o português não vai a lado nenhum. não é verdade. sobretudo quando não tem de lidar com a pequenez diária do país de origem. temos de ser mais aqui como somos lá fora. temos de mudar o país, é isso. talvez se fizermos de conta que portugal é a espanha corra tudo bem.

sobreviver a sério

shimon sabag organizou um concurso de misses em israel para premiar não só a beleza física como a história de vida das participantes. em comum, as 40 concorrentes de 300 inscritas tinham a sobrevivência ao holocausto e a idade avançada, a mais nova com 74 anos e a mas velha com 97. o concurso foi recebido, tanto em israel como no estrangeiro, com um coro de indignação e protesto. é muito difícil imaginarmos os horrores por que estas senhoras passaram. por muito que se saiba sobre os campos de concentração e os crimes de genocídio praticados pelo nazismo, uma parte de nós não está preparada para olhar para o inferno na terra. por isso, penso que qualquer acção que exorcize o pesadelo que viveram é bem-vinda. como pode o mundo ficar chocado com um divertimento organizado em torno do mal causado às participantes? será um mundo que não sabe lidar com as sobreviventes do holocausto que escolheram viver?

instagramemos

comecei a participar timidamente numa rede social chamada instagram, que já existe há algum tempo, mas a que nunca tinha ligado importância. arrisco a dizer que, além do twitter, é a rede social mais gira inventada até hoje. vive à base de fotografias que os utilizadores tiram e no mesmo instante partilham com o mundo. a espontaneidade do twitter e do facebook está presente no instagram, mas a comunicação é feita através de imagens e não de palavras. no instagram, graças aos filtros e outros pequenos truques que tornam a maior parte das fotografias banais em obras de arte, é tudo lindo de morrer. e a beleza das imagens ajuda à participação das pessoas, que registam aquilo de mais que gostam – pessoas, paisagens, animais – de uma maneira que os faz parecer profissionais do nobre ofício. não é invulgar ver uma boa imagem instragramada. mas tem de haver más fotografias no instagram. eu é que ainda não vi nenhuma.

como nós

é costume a rtp 2 apresentar verdadeiras preciosidades do humor inglês na rubrica britcom. o último presente que nos deu foi twenty twelve, um mockcumentary sobre a organização dos jogos olímpicos, que começam a 27 de julho. apesar de os actores serem mais ou menos conhecidos do público português, hugh bonneville, que interpreta ian fletcher, o chefe do comité, talvez seja agora o mais popular. é o honesto e angustiado aristocrata e chefe de família de downton abbey. nesta nova série, continua honesto e angustiado, mas desta vez com a responsabilidade do trabalho, a incompetência que o rodeia e as pressões a que as celebridades olímpicas o sujeitam. ao contrário de the office, de ricky gervais, as personagens de twenty twelve são bastante credíveis. também nos rimos com os estereótipos, mas não chegam a ser personagens de ficção. até pensei que estava a ver portugueses a organizar os jogos olímpicos em portugal.