complica e facilita. obviamente seria melhor para o governo não ter os seus desígnios contrariados. mas esta ideia de desigualdade ficou sempre a pairar no ar, nomeadamente desde as declarações do presidente da república sobre a equidade fiscal.
o passar do tempo veio reforçar esse sentimento.
dirijo uma instituição onde, a par de cerca de mil pessoas que estão num quadro residual da função pública, trabalham outras 4.500 com contrato individual de trabalho. assim, umas receberam subsídio de férias, outras não. é muito desagradável para os próprios e para quem tem de gerir essas situações. é um exemplo do que sucede no país todo… em muitas famílias, uns recebem, outros não; em muitas terras, uns recebem, outros não.
à medida que o tempo passa, as empresas foram começando a sentir que talvez lhes conviesse mais não terem de pagar 13.º e 14.º meses. enfim, não é nada fácil essa disparidade.
entretanto, segundo os cálculos que se fazem, se não fossem pagos os subsídios no sector privado haveria cerca de 800 milhões de euros a menos de receita fiscal. tudo isto dificulta as contas.
sucede que esta decisão surge num momento em que o estado precisa de mais receitas, como se ficou a saber pelos mais recentes dados da execução orçamental. e, como se notou pela reação de pedro passos coelho, a consequência da decisão do tc não deverá ser a reposição dos subsídios da função pública – como as primeiras notícias pareciam sugerir – mas a ampliação da medida, passando a exigir a todos o mesmo sacrifício.
quase se pode dizer que, para o governo, tudo visto e revisto, a decisão caiu ‘que nem sopa no mel’.
2. cada vez se ouve mais gente dizer que a grécia tem de sair do euro. o que acha?
não é nada fácil a grécia continuar no euro. os sacrifícios que se tornam necessários para os gregos são praticamente insuportáveis.
é diferente seguir um caminho duro de regeneração económica e financeira por decisão soberana ou fazê-lo por imposição externa. uma das grandes dificuldades em trilhar a rota das privações dentro da zona euro é verem-se outros parceiros – os que mais exigem essa austeridade custosa – em tempos de crescimento e de abundância.
a própria fortaleza da união europeia começa a abrir brechas. mais do que as declarações e desmentidos da finlândia ou as reticências da eslováquia, a notícia de que o reino unido pode fazer um referendo sobre a continuidade ou não na ue, ou a possibilidade de fecharem as fronteiras aos gregos, são sinais pouco estimulantes.
3. o ministro da educação diz que os critérios nas universidades vão mudar. também pensa que houve demasiado facilitismo, ganhando-se canudos ‘na farinha amparo’?
sem me referir a qualquer caso individual, penso que sim. têm de ser apertados os critérios de avaliação e de recrutamento dos corpos docentes das universidades. eu tinha escrito sobre esta matéria há pouco tempo, dando-a como exemplo daqueles temas que exigem tratamento urgente em portugal. escrevi essas palavras, há quase um mês, depois de um artigo de vasco pulido valente intitulado eles que se lixem, sobre os mais de 4.000 cursos superiores que temos em portugal. a esse propósito, a 16 de junho, escrevi no meu blogue:
«portugal precisa de coragem para mudar radicalmente o que se passa no ensino superior. não interessa individualizar ou isolar o caso da instituição a ou b. há que agir e depressa. muitos cursos superiores são meros prolongamentos das falsas oportunidades que andaram a iludir muita gente. novas oportunidades são, por princípio, justas. mas enganar as pessoas, isso não. para portugal ter um bom futuro, está é uma tarefa imperiosa. se não for levada a cabo, são eles que se lixam e é portugal inteiro que é posto em causa».
repito: escrevi isto na altura, e transcrevo-o hoje, sem referência a casos individuais. a questão é mais profunda e envolve muitas pessoas em todo o país.