Guerra e finanças

Chamavam-lhe a ‘última guerra romântica’, talvez pensando nesses voluntários que vieram, da Europa e das Américas, lutar pelas suas convicções em terra espanhola.

a guerra mundial que começaria cinco meses depois, em setembro de 1939, já não teria voluntários. e seria a guerra das grandes massas de homens e material e teria o fim menos romântico possível – a bomba atómica.

a guerra de espanha foi também, à posteriori, um campo de batalha dos historiadores e dos escritores.

estes romancearam-na numa literatura que encheu a cabeça e a imaginação de gerações: andré malraux, erico veríssimo, ernst hemingway, arthur koestler, agustin de foxá, josé maria gironella, drieu de la rochelle, encarregaram-se de contar as histórias desta história.

também os historiadores, os gerais e os sectoriais, os civis e os militares, os espanhóis e os estrangeiros – especialmente os anglo-saxónicos – tiveram aqui os seus combates. que não pararam até hoje. basta lembrar as obras mais recentes, de sentido oposto na repartição de culpas, de pio moa e de paul preston.

é um território ainda em aberto, apesar de nos parecer já explorado e traçado por inúmeros caminheiros. mas há sempre outro que chega. e mais terreno a descobrir.

josé ángel sánchez asiaín é um destes estudiosos da história da guerra civil. é doutor em economia, catedrático de finanças. economista e banqueiro, foi presidente do conselho de administração dos bancos bilbao e bilbao vizcaya.

tinha sete anos no 18 de julho de 1936. é da geração contemporânea da autocracia franquista, que reconstruiu e modernizou o país, trazendo-lhe o desenvolvimento industrial e social e acabando com a espanha dualista.

o tema da sua obra monumental – la financiación de la guerra civil española – una aproximación histórica* é o que o nome indica: um estudo exaustivo, em 1300 páginas, dos preparativos e financiamento do levantamento nacionalista – dos carlistas, de juan march, de portugal

e depois dos recursos, do sistema financeiro e dos instrumentos monetários e fiscais das duas espanhas, a de burgos e a de madrid-valência.

é uma obra pioneira mas também definitiva, que se ocupa exaustivamente da relação que os antigos referiram e maquiavel popularizou entre o ouro e ferro (pecunia nervus bellum).

está tudo aqui, da evolução dos preços aos custos do material de guerra ou ao financiamento dos republicanos no exílio.

o capítulo sobre portugal (e fiquei amigo do autor precisamente quando ele aqui veio investigar os apoios portugueses, públicos e privados, a franco) é particularmente interessante para nós, tendo sánchez asiaín concluído que de portugal «veio uma notável ajuda financeira aos sublevados».

*josé ángel sánchez asiaín, la financiación de la guerra civil española – una aproximación histórica, crítica, madrid, 2012.