a participação de pistorius nos jogos esteve sempre rodeada
de polémicas. vozes apoiantes e discordantes misturam-se na discussão, sobre se
deveria ser autorizada a incursão de um atleta, no fundo, paralímpico, a
competir com próteses em vez de membros, entre atletas sem qualquer deficiência
física.
a discussão culminou com a confirmação de que pistorius
integraria a equipa olímpica da áfrica do sul, embora nunca tenha conseguido,
na última época, registar marcas que atingisse os mínimos olímpicos definidos
pela federação de atletismo sul-africana.
porém, a excepção foi feita, e pistorius participará na
prova dos 400 metros e nos 400 metros estafetas. o dia da confirmação, como
garantiu depois à norte-americana cnn, «foi o mais feliz da [sua] vida», ao
realçar igualmente o «seu contentamento de, por fim, a determinação e
sacrifício terem resultado»
em londres, o sul-africano correrá em provas que já lhe
granjearam medalhas, mas na vertente paralímpica: quatro de ouro, nos 400
metros, e uma de prata, na mesma distância em estafetas.
o último ensaio, que se concretizou ontem, terça-feira, no
norte de itália, perto da cidade de udine, terminou com pistorius na segunda
posição, atrás do norte-americano calvin smith. o seu tempo foi de 46,56s,
inferior ao melhor que já conseguiu, 45,07s, que ainda assim fica quase dois
segundos aquém da melhor marca de sempre.
algo que foi destacado por michael johnson, o reformado
corredor que ainda detém os recordes mundiais e olímpicos nas duas provas em
que pistorius participará – 43,18s, nos 400 metros. «como o seu melhor é 45
segundos – o que não é suficiente para vencer medalhas -, as pessoas
normalmente abordam o seu caso dizendo que ele devia ser autorizado a correr»,
explicou.
o norte-americano, porém, refutou esta posição, alegando ao
diário britânico daily telegraph que
ainda não foi provado se o uso de próteses lhe dá, ou não, uma «injusta
vantagem».
os atletas mantém uma amizade entre si, da qual johson se
afastou nas palavras que usou para justificar a sua posição. «considero o oscar
como um amigo, mas ele sabe que sou contra o facto de ele correr, porque não
tem que ver com ele, como pessoa, mas antes com as regras que se aplicam a
todos, e não apenas para o oscar», explicou.
mesmo sem o admitir, pistorius aterrará em londres para
cumprir um sonho, e mesmo se as suas ambições o elevaram, dificilmente
alcançará tempos que lhe dêem medalhas olímpicas.
ainda assim, roger black, britânico que participará
igualmente nos 400 metros, resumiu assim o que poderia ter acontecido se as
próteses tivessem, por infortúnio, tivesse substituído outras pernas.
«o que aconteceria se
o michael johson, um corredor de 43 segundos, tivesse um acidente horrível, passasse
a ser um atleta paralímpico, lhe colocassem próteses e que depois corresse os
400 metros em 41 segundos?», questionou.
aí, por certo, a polémica seria a mesma, mas quiçá mais
intensa. porém, nos jogos de londres, oscar pistorius dificilmente correrá por
algo mais do que o seu nome na história, como o homem que participou na
competição sem pernas, mas com próteses.