Damasco sem descanso

Aquela que parece ser a derradeira batalha por Damasco ao fim de 16 meses de conflito, prossegue mais forte do que nunca. Depois dos ataques de ontem à agência de Segurança Nacional, que mataram o ministro da Defesa e o seu vice, cunhado de Bashar al-Assad, a luta armada entre o Exército Livre da oposição…

o observatório sírio dos direitos humanos relata esta quinta-feira que o governo orquestrou uma série de ofensivas como resposta aos combates de ontem, estando a atacar inúmeros bairros de damasco. é o caso de mezzeh, cercado pelas tropas do governo e a braços com confrontos directos com os rebeldes locais, de qaboon, barzeh e de mashrou-dumar, que acordou ao som de intensas explosões.

centenas de residentes tentam abandonar a cidade, situação que se torna difícil uma vez que os confrontos se proliferam por todas as artérias da capital. no bairro de mezzeh, por exemplo, os telhados estão repletos de snipers leais ao governo que tentam atingir a tiro as forças da oposição. a circulação nas ruas torna-se, portanto, impossível.

a mesma organização acrescenta que esta manhã os rebeldes danificaram um helicóptero e três veículos militares.

os confrontos seguem-se aos bombardeamentos de ontem, que tinham como alvo uma reunião do conselho de ministros e das forças de segurança do regime. dezenas de oficiais ficaram feridos, para além de três membros do círculo próximo a assad terem morrido.

segundo o observatório, mais de 200 pessoas, na sua maioria civis, terão morrido ontem, sendo que 38 perderam a vida em damasco.

perder o controlo

o dia de ontem parece estar a ser visto como um ponto de viragem no confronto sírio que já se arrasta desde março de 2011 e que, pela primeira vez em 16 meses, chega às barbas de assad, no centro de damasco.

o correspondente da al-jazeera no vizinho líbano descreve que esse é o sentimento geral. «a guerra de damasco vai agora para o seu quinto dia e já está a aproximar-se da sede do poder do presidente bashar al-assad», afirmou. «perder o controlo sobre damasco significa que o regime está a perder a mão no país». ou seja, «o prestígio do regime começou a ser destruído».

também a casa branca veio afirmar que os acontecimentos dos últimos dias mostram como «assad está a perder o controlo» da síria, a julgar pelo «crescente número de deserções» e por uma oposição «fortalecida e mais unida».

mas a ideia de que a síria está perante um ponto de viragem não é consensual. o rei da vizinha jordânia manifestou ontem a crença de que, «apesar de ter sofrido um duro golpe», o regime não vai desistir.

decisões adiadas

no rescaldo do intensificar dos combates, o conselho de segurança da onu, que esperava votar ontem o projecto de resolução redigido pelo reino unido sobre a síria, decidiu adiar a reunião para a manhã desta quinta-feira, atendendo a um pedido do enviado especial kofi annan. projecto que se espera ser, uma vez mais, vetado pela rússia e pela china, que discordam de uma possível intervenção militar e da aplicação de pesadas sanções sobre o regime.

mas o cerco das nações unidas aperta-se à medida que se aproxima o prazo de validade da missão de monitorização dos observadores na síria, que expira precisamente amanhã, sexta-feira. o projecto de resolução sujeito a votação prevê, além de novas sanções ao regime, o prolongamento da missão por mais 45 dias.

todavia, o chefe da equipa de observadores, o major general robert mood, considerou hoje «irrelevante» a missão de monitorização do plano de paz de kofi annan que nunca chegou a ter efeito se esta não for acompanhada de um processo político que procure, por si só, pôr termo à guerra civil.

aos jornalistas a partir do seu hotel em damasco, robert mood reforçou que a situação actual é bem diferente da desejada para a transição, uma vez que, «custa-me dizer», a síria «não está no caminho para a paz».

correm indícios de que o presidente bashar al-assad e a respectiva família podem já não se encontrar em damasco. segundo a reuters, estará eventualmente no seu palácio em latakia, província no noroeste do país onde o pai do líder está enterrado.

rita.dinis@sol.pt