zita seabra, da alêtheia, decidiu editar este livro por se ter arrependido, um dia, de não ter publicado uma história sobre violência doméstica. o que a moveu a si?
primeiro, o tema da violência doméstica. depois, fazia sentido escrever sobre este caso que vinha a acompanhar há meses, no sol, e sobre o qual tinha muitos elementos que nem sempre tinha tido a oportunidade de publicar. foi uma forma de aproveitar e desenvolver o material, por exemplo, das centenas de conversas que tive com pessoas que acompanharam as várias épocas da vida de paco bandeira.
o sol foi o primeiro órgão de comunicação social a tratar o caso. como começou a investigação?
recebi um e-mail anónimo com uma denúncia, que incluía o número de um processo judicial. a primeira notícia, a dar conta de que paco bandeira era acusado de quatro crimes – violência doméstica, maus tratos a menores, devassa da vida privada e posse de arma proibida – saiu em janeiro. a partir daí, todos os jornais começaram a tratar o assunto.
nunca entrevistou paco bandeira.
falei sempre com o advogado, que me dizia que ele não queria falar. depois, o cantor deu entrevistas a outros órgãos de comunicação, dizendo que era alvo de uma cabala. a certo momento, desistiu de falar e só na semana passada voltou a dar uma entrevista, depois de se saber a sentença.
dos quatro crimes, foi acusado de apenas um: de violência doméstica e com pena suspensa. esperava isto?
fazia sentido que a pena fosse suspensa, porque se trata de um crime de violência psicológica e não física. mas, na história, tudo dava a entender que os dados eram consistentes, fortes.
o livro é mais do que um relato deste processo. como o caracteriza?
o livro ajuda a perceber os contornos de um caso mediático. começa com a história da primeira mulher de paco bandeira e procura relatar como era a relação dele com as mulheres. quem ler o livro não vai ficar a saber se ele é culpado ou inocente, porque violência silenciosa não condena ninguém, apenas dá pistas sobre a história e fornece dados para que o leitor tenha a noção de que não é preciso sofrer maus tratos para se ser alvo de violência.
que tipo de mulheres podem ser alvo de violência doméstica?
a resposta é difícil, porque o estereótipo é o de uma mulher frágil. mas quando falei com maria roseta não fiquei com a certeza de que ela seria uma mulher frágil.
qualquer pessoa pode ser alvo de uma violência destas?
isso é que é assustador. como se trata de violência psicológica, não há uma estalada, uma marca no rosto, as mulheres têm mais dificuldade em convencerem-se. pensam, se calhar, que é normal.
muitas das pessoas que entrevistou diziam que tinham medo de paco bandeira. teme alguma reacção da parte do cantor?
não posso temer. o que escrevi no livro é, na essência, o que escrevi para o sol. e procurei dar uma visão equilibrada da história.