Berlusconi, o regresso mais indesejado

Ao longo da última semana, a figura de Berlusconi tem pairado sobre Itália como uma nuvem de dúvidas. Nas suas mais recentes aparições públicas, agora raras, o ex-primeiro-ministro tem sugerido a possibilidade de um regresso à cena política. Mas nada é oficial. Para já, Il Cavalieri entretém-se a alimentar o suspense.

a primeira ‘ameaça’ chegou no fim-de-semana, quando um dos mais proeminentes jornalistas italianos revelou ter tido uma conversa com berlusconi em que este teria manifestado a vontade de ser candidato em 2013, por não querer «desperdiçar 18 anos de capital político».

mas para as águas se agitarem definitivamente foi preciso esperar por segunda-feira, quando o milionário concedeu uma entrevista ao tablóide alemão bild. questionado sobre uma possível recandidatura, disse que «nunca deixaria o povo da liberdade [pdl, o seu partido] ficar mal». e foi mais longe, revelando a intenção de mudar o nome do movimento político para forza italia, a designação do partido criado pelo próprio em 1994, que daria depois origem ao actual pdl.

além de abalar toda a classe política com a ameaça de uma recandidatura, inquietou as outras forças que constituem desde 2008 o pdl, que não gostaram de se ver ultrapassadas pelos planos de berlusconi. horas mais tarde e no facebook, onde tem escrito amiúde, veio dizer que a renomeação do partido era só uma «ideia», não uma «decisão consumada».

contra o ‘comunismo’

com ou sem polémica, a verdade é que as bases militantes do pdl clamam pelo regresso do polémico ex-líder. sondagens recentes prevêem que o pdl, que venceu as eleições de 2008 com 38% dos votos, não passará dos 10% em 2013. isto se for angelino alfano, discípulo de berlusconi e actual líder do partido, a comandar as tropas. o caso muda de figura se il cavalieri voltar, com as intenções de voto a subirem até perto dos 30%. mas a sua imagem continua a ser tudo menos consensual.

outro inquérito indica que 64% dos italianos vêem o ex-primeiro-ministro como «o pior» governante da história recente.

daí que a entrevista concedida ao diário alemão esteja também a ser vista como uma tentativa de berlusconi limpar a sua imagem.

sobre o caso do alegado envolvimento sexual com uma menor, aproveitou para se dizer vítima de um sistema judicial «esquerdista» que terá orquestrado contra si «uma campanha monstruosa de difamação». já sobre o seu papel no governo, berlusconi orgulhou-se de ter «salvo a itália do comunismo».

rita.dinis@sol.pt