Estado constrói e não paga

Um terço da dívida dos transportes deve-se a obras que não foram pagas. Metro diz que não consegue pagar dívida

o estado investiu seis mil milhões de euros em infra-estruturas de transportes nos últimos anos, mas nunca chegou a devolver o dinheiro que pediu emprestado. realizaram-se as festas de inauguração, cortaram-se as fitas, tiraram-se retratos para a posteridade. mas as contas ficaram por pagar e foram ‘escondidas’ nas empresas públicas.

as contas são do governo. questionado pelo sol, o secretário de estado dos transportes, obras públicas e comunicações, sérgio silva monteiro, referiu que «um terço da dívida de 18 mil milhões de euros das empresas de transportes públicos deve-se a investimentos em infra-estruturas», segundo os últimos estudos do executivo. em causa estão, sobretudo, investimentos nos metropolitanos de lisboa e do porto – construção das linhas, das estações e aquisição das composições, e ainda na ferrovia – novas linhas e comboios. e seis mil milhões de euros é o valor equivalente à construção de dois novos aeroportos em alcochete.

negociações com a troika

o secretário de estado sérgio silva monteiro confirmou «estar a conversar com a ‘troika’ para encontrar uma solução». estas conversas com os credores externos estão a prolongar-se além do previsto, tendo o governo prometido anunciar uma solução para o pagamento dos 18 mil milhões de euros até ao final de maio.

os diferentes governos dos últimos anos anunciaram os investimentos, pediram dinheiro emprestado ao sistema financeiro e nunca pagaram. como tal, os juros não pararam de crescer, até acumularem um total de seis mil milhões de euros, garante o actual governante. os restantes seis mil milhões de euros devem-se a prejuízos operacionais, isto é, ao facto de as empresas registarem menos receitas do que despesas para prestarem os serviços.

toda esta dívida contraída devido a orientações políticas foi colocada no balanço das empresas públicas, de modo a não entrar na contabilização do défice orçamental. agora as empresas não conseguem pagá-la, nem registar lucros devido ao peso dos juros. e o pagamento de juros da dívida aos credores já representa três quartos dos prejuízos apresentados pelas empresas de transportes.

hora de pagar a conta

como tal, diz questionado pelo sol o presidente do metropolitano de lisboa, deve ser o estado a assumir os pagamentos. «o metro de lisboa não tem condições para pagar a dívida. em nenhuma parte do mundo é possível ter encaixe para pagar uma dívida histórica de 3,9 mil milhões de euros», diz cardoso dos reis. «a dívida tem aval do estado que a deve pagar».

a posição de cardoso dos reis, de saída da liderança da empresa pública, vai ao encontro à de josé benoliel, presidente da cp. o gestor da operadora ferroviária foi o primeiro a defender, em declarações ao sol em fevereiro deste ano, que deve ser o estado a pagar a dívida histórica das empresas públicas.

metro já chega ao aeroporto

esta semana foi inaugurada a extensão da linha vermelha do metro de lisboa entre o oriente e o aeroporto da portela. uma empreitada que compreende ainda as novas estações de moscavide e encarnação.

o investimento foi de 210 milhões de euros, dos quais 149 milhões foram pagos por fundos europeus. a ‘fatia’ que cabe ao estado ainda está por pagar. em protesto no dia da inauguração, segunda-feira, os trabalhadores pediram para não serem os seus sacrifícios a honrar a factura.

a estação do aeroporto conta ainda com 49 ilustrações do cartonista antónio (ver fotoreportagem na revista tabu).

frederico.pinheiro@sol.pt