em lisboa é sua a estação de metro de alvalade, com azulejos da fábrica viúva lamego, tal como os painéis que desenhou para a rua da bica do sapato. trabalhou para a vista alegre e com a bordallo pinheiro, donde saiu a peça rãs a namorar no cogumelo, para celebrar os 125 anos da fábrica.
lá fora tem trabalhos no centro cultural saikai, no japão, e fez múltiplas exposições nos estados unidos, itália, croácia, china e frança (só para lembrar alguns países), já para não falar das suas ilustrações no new york times e no new city chicago.
hoje tem patente uma mostra no convento do espinheiro, em évora, e prepara a sua grande estreia na bélgica – onde vive há um ano – com a exposição a mesa, na galeria valerie traan em antuérpia
«aos 15 anos tive de decidir a área que ia seguir e, como todos os meus amigos iam para direito, lá fui com eles. lembro-me que a psicóloga da escola telefonou à minha mãe a dizer: ‘a bela é uma artista! ela está a fazer a maior loucura da vida dela!’. claro que cheguei ao 12.º ano e tive de fazer outras disciplinas para conseguir entrar nas belas artes».
começou pela pintura mas mais tarde acabaria por mudar para escultura. uma escolha que a conduziu a norwich, em inglaterra, ao abrigo do programa erasmus. «tinha 25 anos e fiquei com aquela ideia de um dia, talvez mais tarde, trabalhar fora de portugal». o gosto vinha de trás.
ainda adolescente, colaborava nas férias com o ateliê de arqueologia promovido pela câmara municipal de almada. o seu sucesso era tanto que chegou mesmo a rumar à grécia durante um verão. «houve um dia que um cão me seguiu e eu estava nas escavações – cheias de esqueletos – e só pensava ‘ai se o cão me rouba um osso vai ser uma confusão!’». não passou do susto. «hoje há algumas pessoas que dizem que as minhas peças têm muito de arqueologia – de facto é uma disciplina de que sempre gostei muito, tal como a história».
depois de inglaterra, regressa a lisboa, acaba o curso e ingressa no ar.co, seduzida por uma cadeira de cerâmica. aí é incitada a concorrer ao art institute de chicago. e parte por seis anos. «só não fiquei lá a viver por causa do clima terrível e pela distância. eu morria de saudades!», lamenta. em 1999 muda-se novamente. desta vez de lisboa para nova iorque. «cheguei e consegui logo trabalhos, só que depois era difícil porque tinha um filho pequeno, o vincent, e percebi que nova iorque era uma máquina que mastiga as pessoas e depois as cospe».
de nova iorque relembra as tardes passadas no metropolitan com o filho: «ia buscá-lo à escola e a seguir íamos para o museu. escolhíamos apenas uma parte para ver. um luxo! lembro-me dele pequenino passar em frente das estátuas gregas e dizer-me: ‘quem fez estas coisas tão giras?’».
de regresso a portugal trabalha para a vista alegre, para a bordallo pinheiro e faz o projecto da estação de metro de alvalade. mas desanima. «as coisas em portugal não avançam e chega a uma altura em que se desiste», lamenta. pelo meio conhece o marido, benoît van innis, um ‘artista independente’, como se intitula, que colabora com os seus desenhos para as revistas de morgen, de volkskrant, new yorker, paris match, lire e le magazine littéraire. actualmente trabalha também no projecto para o museu plantin moretus, em antuérpia, em parceria com o gabinete de arquitectura noa.
mais do que o casamento, bela e benoît encetam uma parceria artística que tem bruxelas como epicentro. «eu que sou belga, mas que trabalho também com fábricas tradicionais, como é o caso da viúva lamego, acho que o grande problema não é a falta de talento – que portugal tem muito – mas as pessoas que estão no topo não terem iniciativa», lamenta o artista.
por oposição, na bélgica as coisas não param de acontecer: «quando cheguei até tive algum receio porque achei que era tudo muito minimalista em oposição às minhas peças barrocas, mas eles adoram! quando chegam ao meu ateliê vêem apenas uma peça e ficam encantados sem me conhecerem de lado nenhum!», conta a artista.
em dezembro, bela e benoît preparam-se para apresentar a mesa, uma exposição que começou com a mesa que ela levou de portugal para bruxelas. o casal conta que o fotógrafo dirk braeckman os visitou em sua casa e ficou impressionado com a estrutura. depois foi a vez da galerista valerie traan incitar a artista a conceber esculturas relacionadas com esse objecto.
o resultado final serão três mesas com azulejos feitos por benoît e várias esculturas de bela sempre sob o tema da comida. «a mesa é muito importante porque é um ponto de encontro. sempre tive na minha casa os amigos à volta de uma grande mesa. é o coração da casa», realça. além das mesas e das esculturas, haverá ainda quadros com frases do poeta francês francis ponge. para ver a partir de 6 de dezembro.