os 51 anos do músico francês emanavam uma energia que,
durante 2h20, foi saudosamente fatal: poucos, entre os milhares que ontem o
viram, terão conseguido ficar quietos. a sua postura frenética, assente em
pernas que teimam em não parar, foi o toque perfeito numa fórmula musical
virada para os espectáculos ao vivo.
no domingo, foi a vez do música francês de origens
espanholas subir ao palco montado no hipódromo manuel possolo, espaço que está
a acolher o cascais music fest. era o regresso de manu chao a portugal, um ano
depois de ter estado em gaia. um retorno que era ansiado, algo que ficou evidente pelos
milhares de pessoas que encheram o recinto.
milhares que proporcionavam um uníssono de vozes, que tantas
vezes o francês procurou, através de gritos simples e de fácil reprodução, aos
quais o público se habituou e que, a cada pedido do cantor, tornava a imitar.
gritos que o artista buscava pelo meio das canções com que
embalou o público, ora em ritmos mais lentos, procurando batidas reggae,
constantes e melódicas, ora em fortes e rápidos acordes de guitarra, apelando à
dança e ao salto. assim foi feita a viagem pelo seu reportório, com as paragens
mais aplaudidas em temas como la
primavera, bienvenido a tijuana
ou la vida tombola, canção dedicada
a diego armando maradona, antiga estrela do futebol argentino, e por muitos
encarado como o melhor jogador que alguma vez pisou os relvados.
esta não foi a única homenagem. logo de início, quando as gargantas e pernas ainda aqueciam, chegou mr.bobby, tema em memória de bob marley, ícone e percursor da música reggae, cantor jamaicano que um cancro tirou do mundo, há 31 anos.
quem já tinha assistido aos seus concertos, saberia que manu
chao dificilmente abandona um palco sem que antes por lá tenha ficado, pelo menos,
durante um par de horas.
assim o foi, com o cantor a prolongar o espectáculo o máximo
que pode. e até mentiroso foi, quando anunciou a última canção do concerto, só
para depois regressar ao palco, secundado pelos três músicos da sua banda. o
gesto disse tudo: dirigiu-se ao público, com um dedo apontado à cabeça, quiçá
dizendo – «estão loucos, acabar já?». manu chao voltou, e tocaria ainda mais três temas.
à falta de um verdadeiro novo álbum desde 2007 – os dois
últimos, estácion mexico e baionera, são ambos registos ao vivo,
de concertos -, o francês voltou a granjear o público com temas antigos, com
destaque para king of the bongo,
antes de, em definitivo, encerrar o concerto.
o relógio marcava as 00h20, e confirmava que tinham sido
2h20 de música, saltos e dança, uma conjugação de energia de um daqueles
artistas que mais brilha quando está em palco, formando um contágio de animação
que poucos deixará indiferentes.
antes de partir, deixou a promessa que um dia voltará. nisto, não deverá ser mentiroso. até à próxima, manu chao.