Uma ‘nova’ Angola?

O discurso de José Eduardo dos Santos na apresentação do Programa de Governo e do Manifesto Eleitoral do MPLA põe a tónica numa ideia: mudança.

não que esteja em causa uma mudança de rumo nas políticas gerais do país. o que está em causa é, acima de tudo, uma mudança de paradigma, que passa pelo reforço da componente social da governação, que estará mais focada, se se confirmar a vitória do mpla a 31 de agosto, no apoio aos mais desfavorecidos.

o líder do chamado ‘partido dos camaradas’ foi claro, ou antes, voltou a a ser – porque a ideia já tinha sido lançada na última reunião do comité central: «chegou a hora de crescer mais e distribuir melhor».

ou seja, o líder histórico do mpla e de angola promete que, se ganhar as eleições, dará prioridade a um crescimento virado para a melhoria das condições de vida da população, para o combate à pobreza e à miséria, realidades que, infelizmente, estão ainda muito presentes em angola.

é positivo que eduardo dos santos coloque a tónica na necessidade de mudança, porque ao fazê-lo está não apenas a dar um sinal de estar próximo do cidadão comum mas, sobretudo, a admitir que é possível governar num registo que diz mais à generalidade da população – afinal, a sua ‘massa’ de apoio.

o manifesto e o programa do mpla, como acontece em todas as eleições em todos os países do mundo, contêm inúmeras intenções e promessas. dir-se-á que muitas não costumam – ou não serão – cumpridas. mas é importante ler os documentos porque reflectem, efectivamente, uma mudança de política.

e angola – os angolanos – esperavam isso de josé eduardo dos santos, que soma outro trunfo à sua nada negligenciável capacidade de comunicação: antecipou-se aos adversários políticos e partidários, que não tiveram capacidade de apresentar, antes do mpla, as suas ideias para o país.

ao pôr a tónica na mudança, o mpla retirou espaço aos adversários, que têm reclamado, precisamente, um novo registo de governação. em breve, como o sol revela nesta edição (nas páginas 74 e75), unita e casa-ce – os presumíveis opositores mais fortes – apresentarão os seus programas eleitorais. têm a desvantagem de o fazer depois do partido no governo.

por isso, recai sobre eles um desafio ainda maior. terão de ser mais audazes nas promessas, mas sem perder o realismo. e mais focados em problemas concretos. angola e o mundo esperam muito desta ‘corrida’. os dados estão lançados. que ganhe o melhor.