Coreia do Norte saiu de campo devido a bandeira da inimiga do Sul

A polémica assombrou os Jogos Olímpicos (JO) logo no primeiro dia. O futebol feminino entrou ontem em campo, e um erro afectou a selecção quiçá menos tolerante em prova: a Coreia do Norte, e envolveu logo a sua congénere, e inimiga, do Sul. Os nomes das suas jogadoras foram apresentados no ecrã gigante do estádio…

a selecção da coreia do norte entrava no relvado do hampden
park, estádio do rangers, em glasgow, cidade escocesa. pela frente teria a
colômbia, no encontro inaugural de ambas as equipas nos jo.

porém, a partida só começaria mais de uma hora depois do
previsto. a entrada das norte-coreanas em campo foi travada pelo seu treinador
e outros responsáveis da selecção, após repararem que, no ecrã gigante do
estádio, ao lado dos nomes das suas jogadoras, constava a bandeira da coreia do
sul.

a surpresa rapidamente deu lugar à fúria. ui gun-sin,
seleccionador norte-coreano, protestou junto dos responsáveis dos jo e ordenou
as suas jogadoras que abandonassem o relvado até que o erro fosse corrigido.
«se este assunto não tivesse sido resolvido, continuar [em campo] seria um
disparate», explicou depois ao britânico the
guardian.

de facto, as suas jogadoras mantiveram-se longe do relvado,
e só o voltariam a pisar 45 minutos depois da hora prevista para o início do
encontro, que só se iniciou passados outros 20 minutos, o tempo necessário para
as norte-coreanos realizarem de novo exercícios de aquecimento.

no final, vitória por dois golos sem resposta para a coreia
do norte. mas nem isso sarou as feridas que parecem estar agora abertas nas susceptibilidades
da selecção asiática.

«estamos muito chateados por as nossas jogadoras terem sido
apresentadas como sul-coreanas. isso afecta-nos muitos, as nossas jogadoras não
pode aparecer ao lado de outras bandeiras, especialmente se for a da coreia do
sul», criticou, ao esclarecer que a equipa «só participaria no encontro se o
problema fosse resolvido correctamente».

alguns minutos volvidos, a organização do estádio conseguiu
corrigir a apresentação e ladear os nomes das jogadoras com a respectiva
bandeira norte-coreana.

paul deighton, director executivo do comité de organização
dos jogos, em declarações à bbc, atribuiu
o episódio a «um simples erro humano», assegurando que «já foram pedidas
desculpas e tomadas medidas para garantir que tal não voltará a acontecer».

desde 1948 que as duas coreias vivem separadas por uma
fronteira – o paralelo 38 -, definida após a segunda guerra mundial, fruto de
negociações entre a então união soviética, que ocupava o território a norte, e
os aliados, presentes no sul.

o ano marcou o início de uma divisão que ainda hoje perdura.
a coreia do norte é governada por um regime autoritário, ditatorial e obscuro,
assente nas malhas da repressão e de costas voltadas contra o ocidente. em tudo
um contraste com a coreia do sul, nação democrática, livre e aberta.

entre 1950 e 1953, os dois territórios travaram uma guerra
que matou milhares de pessoas. em 2010, a artilharia norte-coreana bombardeou
yeonpyeong, uma ilha sul-coreana, causando a morte a quatro pessoas.

diogo.pombo@sol.pt