O consagrado cantor de música popular portuguesa disse à agência Lusa que a crise económica obrigou-o a baixar o cachet e a dar mais concertos, porque trabalha «no verão para conseguir viver no inverno».
«Eu já não sou português, eu sou ‘troikano’», disse José Malhoa, explicando que não compõe temas sobre a crise económica porque «hoje em dia liga-se o televisor e leva-se com um massacre de ‘troikas’», pelo que prefere «dar um bocadinho mais de alegria a este povo, porque este povo anda angustiado, anda triste».
Este ano, «a procura é quase a mesma, sou muito procurado e solicitado pelas comissões de festas e universidades, mas sinto que há uma quebra até nos nossos cachet», lamentou o cantor popular.
«Hoje em dia as comissões de festas estão em grande crise, os empresários também e para obterem essas festas querem preços mais reduzidos», explicou o cantor de música popular, que revelou auferir actualmente cerca de «10 mil, 9 mil euros» por concerto.
«Eu sou dos artistas que mais trabalho tem, portanto não me queixo muito. Queixo-me sim em ter de retirar alguns euros do meu cachet, mas as coisas têm resultado bastante bem», assegurou, preferindo alertar para a situação dos «artistas que estão em casa sem trabalhar».
«O país, infelizmente, está numa crise total, há muito desemprego e eu gostaria que houvesse festas em todo lado», disse à Lusa o cantor popular, para quem «o Governo também devia olhar por isso, porque a gente [do mundo do espectáculo] faz parte da cultura deste país».
«O Governo não devia andar sempre atrás de nós, como faz, para ver se ganhámos mais ou menos em festas», considerou José Malhoa, «portanto, este é um recado que eu mando, porque há muitos artistas em casa passando muitas dificuldades».
Quanto à hipótese de compor temas sobre as actuais agruras económicas europeias, José Malhoa diz apenas que «já basta a crise».
«Àqueles que não têm que comer, ou que não têm trabalho e que não têm dinheiro para pagar a renda da casa, não vamos andar a massacrá-los com isso», asseverou.
Lusa/SOL