A mulher mistério da comitiva indiana

Palco de espectáculos, união de celebrações e desfile de atletas. Tudo e mais alguma coisa acontece durante a cerimónia de abertura de umas olimpíadas, e junto da comitiva da Índia, algo de inesperado teve lugar: uma mulher sem acreditação e vestida, assim se pode dizer, à civil, desfilou ao lado do porta-estandarte indiano.

quem era aquela mulher? a questão foi comum a vários órgãos
de comunicação indianos, e terá pairado na cabeça de milhões de indianos que terão
assistido à cerimónia de sexta-feira.

a história arrancou com perguntas. «quem é aquela
rapariga?», foi a pergunta que assentou na manchete do hindustan times, na manhã seguinte. «uma presença inesperada na
marcha», escreveu por sua vez o times of
india, como o relembrou o norte-americano huffington post.

de facto, mesmo ao lado de sushil kumar, o atleta de
luta-livre responsável por erguer e carregar a bandeira do país, caminhou uma
mulher, de calças azuis e camisa vermelha. cores que contrastavam com o
uniforme e turbante que todos os membros da comitiva indiana envergaram. a sua
presença, portanto, era óbvia aos olhos de todos.

à diferença na indumentária acresceu a falta de
identificação. seria normal que qualquer pessoa presente no recinto ostentasse,
à volta do pescoço, uma fita que por sua vez segurasse um cartão de
identificação, de acreditação para o evento. também neste ponto, a mulher nada
tinha.

porém, acabaria mesmo por desfilar e acompanhar os cerca de
50 membros da comitiva até ao fim da cerimónia – apesar de, no total, a índia
contabilizar 81 atletas nos jogos. uma vez terminada, surgiram mais questões. e
claro, as críticas.

p.k. muralidharam raja, o chefe da comitiva olímpica
indiana, não demorou a redigir e enviar uma carta de protesto à organização dos
jogos. as suas queixas centravam-se no perigo que uma pessoa não identificada
poderia ter causado à comitiva do seu país.

«não tinha o direito de entrar [no recinto do estádio
olímpico] com o contingente indiano e vamos tomar medidas junto dos
organizadores», garantiu, queixando-se depois ao times of india de que «ninguém sabia quem ela era ou porque foi
autorizada a desfilar, é uma vergonha ela ter estado ao lado dos atletas».

no sábado, um dia volvido após a cerimónia, chegaram as
respostas. sebastian coe, chefe do comité de organização dos jogos, tudo
esclareceu. e começou mesmo por dizer que «foi um membro da equipa [de
figurantes] que claramente ficou entusiasmada de mais».

coe explicou depois que a rapariga, de seu nome madhura
honey, era um dos 10 mil figurantes que participaram na cerimónia de abertura
dos jogos e que, como tal, teve que passar por todos os testes e revistas de
segurança obrigatórios para todos as pessoas que entraram no recinto.

de acordo com os relatos avançados pela imprensa, tratava-se
de uma rapariga, com mestrado numa universidade de bangalore, cidade indiana,
está actualmente a residir em londres e voluntariou-se para participar na
cerimónia. o resto não se sabe, mas, estando no recinto e tão perto da comitiva
do seu país, terá decidido não juntar-se à festa, pois nela já estava a participar,
mas antes acompanhar de perto as caras que estariam no foco das câmaras das
televisões.

e foi a sua cara quem mais espanto e atenção acabou por
reunir. 

diogo.pombo@sol.pt