Numa altura em que o Ministério da Educação se prepara para encerrar mais 239 escolas do primeiro ciclo do ensino básico, o concelho de Tondela é um exemplo do aproveitamento que pode ser dado a estes espaços.
No centro da cidade, numa das escolas funciona já a sede da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar e noutra decorrem obras para que venha a acolher o arquivo municipal.
Na antiga escola do Carvalhal está a ser reinterpretada uma sala de aulas do tempo do Estado Novo e muitas outras foram cedidas a associações culturais, desportivas e recreativas do concelho ou acolherão em breve centros de convívio para os mais velhos.
«Não deixam de ter vida e não deixam de ter função», frisou à agência Lusa o vice-presidente da autarquia, José António Jesus, sublinhando a preocupação em valorizar os edifícios que, em muitos dos casos, eram «os mais importantes de uma freguesia ou de uma comunidade».
Na antiga escola Conde de Ferreira, conhecida por escola da feira, funciona a sede da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar, que tem quatro mil associados em todo o país.
O presidente da associação, António Ferraz, disse que foi o próprio presidente da autarquia a propor-lhe o espaço da escola, que foi recebido «de alma aberta e com muito agradecimento».
«Fizemos obras de conservação e melhoramentos, o posto médico e a parte da cozinha. Gastámos aqui, com o auxílio da Câmara, cerca de 100 mil euros», contou, acrescentando que a autarquia pagou metade e a associação tem, «a pouco e pouco, suportado» o restante.
No espaço que antes era alegrado pelas crianças, os antigos combatentes podem agora ter ajuda nos assuntos relacionados com as suas reformas, tratar o stress de guerra e «alimentar o espírito de camaradagem», acrescentou António Ferraz.
Na antiga escola básica n.º 1, junto ao hospital, vão avançadas as obras para transformar o edifício no arquivo municipal, orçadas em perto de 400 mil euros, que devem estar concluídas no final deste ano.
«Durante anos foi a escola de referência no concelho de Tondela e hoje está a ser transformada para acolher o arquivo histórico municipal», referiu José António Jesus, acrescentando que houve a preocupação de manter a traça arquitectónica e conservar elementos emblemáticos, como um painel de azulejos.
«Estamos numa lógica de revalorizar o nosso património, adaptando-o às novas exigências e às novas funções, mas sem perder de vista a importância simbólica que tem na imagem e na memória de todos os que estiveram associados a estas escolas», justificou.
Precisamente para deixar uma «memória viva», a escola do Carvalhal deverá no futuro voltar a abrir, recordando aos mais velhos e dando a conhecer aos mais novos como eram as salas de aulas do tempo do Estado Novo.
José António Jesus contou que esta pequena escola tem vindo, desde há quatro anos, a merecer a atenção dos alunos da escola secundária de Molelos, que têm recolhido e recuperado objectos que futuramente permitam mostrar como era uma sala de outrora, bem diferente das que existem agora, na era dos quadros interactivos.
«Tem sido um trabalho de parceria entre o município e a escola, sendo os alunos os protagonistas deste espaço e desta transformação», frisou.
Enquanto isso, a autarquia promete procurar novos fins para outras escolas que eventualmente venham a fechar no concelho.