e há também a morte lenta deste portugal a anoitecer há várias décadas, cada vez mais pobre, cada vez mais dependente.
ninguém diria: a baía é bela, os veleiros no mar e ao vento dão um ar de nostalgia e esperança de navegações passadas e futuras, os turistas prósperos, a ler thrillers, bebericando sob os guarda-sóis da piscina, a imagem do viver habitualmente. e bem.
a decadência é isto: um resvalar gradual, em que as civilizações, os países, as pessoas, se vão integrando docemente. os primeiros estudiosos do fim do império romano falavam não em decadência ou queda, mas em vacilatio e inclinatio. só mais tarde as coisas ganharam dramatismo com grandeur et décadence des romains, de montesquieu, no princípio do século xviii, e the history of the decline and fall of the roman empire, de edward gibbon, nos finais do mesmo século.
agora estamos – em portugal e na europa – no limiar da queda. ou talvez a queda já tenha acontecido e o que vemos sejam só as consequências.
a decadência de roma também foi assim: no século ii da nossa era, no tempo dos imperadores hispânicos o império atingiu o apogeu. depois, progressivamente, as ‘virtudes antigas’ foram desaparecendo e os romanos, trocaram o ofício das armas e o exercício do poder pelo gozo das coisas que o poder dá.
e foi a barbarização do império e das legiões e a plebeização da cultura. à perda progressiva da hegemonia político-militar seguiu-se a crise económica e os custos crescentes da máquina estatal (militar e securitária). à data em que se oficializou simbolicamente o fim do império este estava morto há muito.
não será o que se passa com a europa e com portugal? a europa vai de crise em crise e de cimeira em cimeira, entre o alastrar da dívida soberana dos estados, da incapacidade das economias da eurozona de amortizar essas dívidas e da indecisão de tomar os riscos de garantir o sistema. a resistência do euro perante o dólar (por que a reserva federal não tem parado com o quantitive easing), tem disfarçado a depreciação da moeda da eurolândia, que entretanto, esta semana atingiu os seus mínimos em dois anos.
a dimensão da crise espanhola – entre o ‘buraco’ das regiões autónomas e a subida dos juros das obrigações – vai na medida em que madrid é o nosso maior parceiro económico, deteriorando ainda mais uma situação que já é assustadora.
por isto a varanda do albatroz e cascais na manhã de domingo podem ser um engano. mas ainda bem que existem.