Número eloquente

A menos que as notas sejam queimadas e as moedas derretidas, o dinheiro nunca desaparece da face da terra. Pode ser transformado em bens e assim ficar sujeito a não valer tanto.

mas pode também passar a valer mais, dependendo do investimento feito. quando é deixado em paraísos fiscais (imagino as notas de 500 euros a beber dry martinis), não desaparece, como dizem nos filmes: é só desviado para outro lado. um estudo de um ex-consultor da mckinsey, o economista james henry, para a tax justice network, uma rede de independentes preocupados com a evasão fiscal, apresentou uma conclusão estonteante sobre o dinheiro em offshores. em 2010, os super-ricos em todo o mundo tinham uma fortuna avaliada em 21 triliões de dólares nas ilhas caimão. henry avisa que serão 32 triliões, um valor similar ao das economias americana e japonesa. os números são eloquentes quanto aos motivos por que as offshores continuam a existir.

como uma solução

roger ebert escreve no nyt sobre james holmes, que matou 12 pessoas e feriu outras 58 numa sala de cinema em aurora, no colorado. segundo o crítico de cinema, não existe uma relação directa entre a violência e o novo filme do batman, que o atirador não terá sequer visto, mas que há uma associação entre a violência e a publicidade. holmes teria visto no aglomerado de gente na estreia do filme uma oportunidade para chamar a atenção do mundo sobre si. as razões para fazer auto-publicidade ficam, no entanto, por explicar. mas para explicar um acto insano destes precisaríamos de pensar em razões que podem simplesmente não existir. a mãe de holmes encarou a notícia da prisão do filho com naturalidade e disse à polícia que tinham apanhado a pessoa certa. talvez ela perceba o que leva alguém a cometer uma barbaridade destas. até lá só vejo um rapaz a usar a violência como uma solução sanguinária para um problema que só existe na cabeça dele.

o fim da televisão

a estreia da quinta temporada da série breaking bad, de vince gilligan, foi recebida com entusiasmo acrescido nos eua. a expectativa para saber como acaba a saga do professor de química/fabricante de metanfetaminas walter white justifica os 2,9 milhões de espectadores do primeiro episódio, o mais visto das temporadas até agora. mas as audiências não ficaram por aqui. a amc disponibilizou o episódio no itunes por dois dólares (três em hd) apenas 12 horas depois de ter ido para o ar. o episódio foi o mais descarregado do site nesse dia. assim, os fãs da série que não têm televisão por cabo e os honestos que não sabem como se descarregam filmes ilegalmente puderam ver o programa no conforto do seu ecrã de computador. o futuro chegou com breaking bad, com o próprio canal a perceber o enorme potencial da internet. não são os livros que vão acabar: é a televisão, tal como a conhecemos, que deixará de existir em breve.

quase todos

a secção de tecnologia do huffington post mostra-nos o que é possível ficar a saber sobre o que o twitter nos diz acerca do que somos e a maneira como vivemos. a análise está mais concentrada na realidade norte-americana, mas não parece apresentar grandes diferenças do que qualquer twitteiro europeu vê acontecer na sua timeline: em geral, comemos porcarias; acordamos de mau humor, mas ficamos mais bem dispostos depois do pequeno-almoço; adoramos celebridades (lady gaga tem 27 milhões de seguidores); acedemos às notícias do mundo através do twitter e às da família pelo facebook; somos unidos a falar sobre desporto e nas revoluções árabes; seguimos aqueles que têm interesses parecidos com os nossos. um aspecto curioso é a quase completa ausência de pessoas idosas no twitter. a humanidade que conversa online é sobretudo jovem. felizmente, há uma parte do planeta que não twitta e sobre o qual o huff po nada sabe.

assim é difícil

quando são turistas no seu país, há portugueses que gostam de ir ao pormenor de adoptar horários nórdicos às refeições. mas não podem almoçar nem jantar muito cedo em restaurante nenhum, porque as cozinhas raramente estão abertas. não aconteceu só uma vez e também não foi num só sítio. preparados para almoçar ao meio-dia e jantar às sete da tarde, nos restaurantes da linha do estoril a cascais, passando por carcavelos e santo amaro de oeiras, houve apenas um restaurante no espaço de uma semana que nos convidou a sentar à mesa, apesar de a cozinha só abrir ao meio-dia e meia ou às sete e meia, respectivamente. fomos repetidamente afastados de restaurantes com as mesas postas, mas que não estariam autorizados a receber clientes disponíveis para beber uma água ou uma cerveja até a cozinha abrir. entendo que os restaurantes têm as suas regras, mas será boa política afastar clientes por causa da rigidez dos horários?