em causa está a talha dourada que revestia o altar da antiga capela da nossa senhora das dores, que no ano passado sofreu obras de modo a ser transformada em auditório. é, aliás, neste espaço que decorrem as cerimónias de atribuição dos doutoramentos honoris causa. ainda em maio, a antiga capela foi palco das distinções atribuídas ao bispo do porto, d. manuel clemente, e a maria de jesus barroso.
no início do ano, o instituto de gestão do património arquitectónico e arqueológico (igespar) foi informado de que a talha dourada havia desaparecido e, desde então, tem tentado obter explicações por parte dos responsáveis da lusófona. à data, o reitor era santos neves (nome agora envolto em polémica por ser o responsável pelas equivalências na licenciatura do ministro miguel relvas), que no mês passado foi substituído por isabel lança.
a secretaria de estado da cultura decidiu em maio apresentar uma queixa ao ministério público. «a direcção regional de cultura do norte enviou um ofício ao departamento de investigação e acção penal do porto a pedir para encetar as diligências necessárias para averiguar as circunstâncias que rodearam a remoção da talha dourada situada na capela das nossa senhora das dores, situada na universidade lusófona do porto» – revelou ao sol este organismo, em nota escrita. segundo os responsáveis da cultura, esta atitude justifica-se por se estar «perante um eventual crime de dano qualificado, destruição e vandalização de património classificado».
a universidade lusófona nega responsabilidades no desaparecimento da talha dourada da capela da nossa senhora das dores. ao sol, enviou cópia da exposição feita à secretaria de estado da cultura, em abril. nessa carta, esclarece que, quando adquiriu todo o edifício, em 2005, à universidade moderna, já «não havia altares ou talhas importantes». «se alguma vez lá houve obras de arte valiosas, certamente alguém já as teria tirado», escreveu, adiantando ainda desconhecer que aquele espaço estava classificado.
a antiga capela em causa é parte integrante do recolhimento de nossa senhora das dores e s. josé (nome do edifício onde funciona a universidade lusófona), que foi construído no início do século xix, para acolher as meninas orfãs na sequência do desastre da ponte das barcas. trata-se de património protegido por se situar dentro do perímetro de protecção da área classificada pela unesco como património cultural da humanidade.