Seguro vai ser muito pressionado

É certo e sabido que Portugal precisa de um PS com sentido de Estado. Mas aproxima-se o momento em que a liderança do PS vai ser muito pressionada para se demarcar totalmente do Governo.

existem dois motivos para que não o faça, e ambos são tão fortes quanto lógicos: o primeiro é portugal estar numa crise gravíssima sem precedentes nas últimas três décadas (pelo menos); o segundo é ter sido o ps a assinar o acordo com a troika e não poder alijar levianamente as suas responsabilidades.

antónio costa assumiu agora a possibilidade de concorrer à liderança, porque sabe que esse momento vai ser muito difícil para antónio josé seguro. se o secretário-seral do ps se abstém, é criticado pelos mais ‘duros’, nomeadamente os ‘guardiões do templo’ socrático; se vota contra, tem o clamor dos sectores à direita, juntamente com os moderados do seu partido, a desancá-lo.

antónio josé seguro deveria começar a negociar já. assumir que tem uma palavra a dizer nas grandes opções para os próximos tempos. para mais, o próximo oe vai ser entregue, debatido e votado já depois da próxima revisão da troika. nessa altura, mexidas ocorrerão no programa de ajustamento da economia portuguesa. para pior não será certamente. se seguro deixa entrar a proposta de oe segundo a vontade exclusiva de psd e cds, depois vai ser mais difícil conseguir muitas alterações.

antónio costa criticá-lo-à por uma razão ou por outra. de todo o modo, honra seja feita ao presidente da câmara de lisboa porque tem posto sempre a tónica no sentido de responsabilidade do ps, até pelos deveres morais que lhe cabem enquanto partido que governou seis anos. costa fechou o acordo financeiro com o governo – e agora já deve pensar que era bom ser secretário-geral do ps antes das autárquicas, porque ninguém lhe tirará a vitória em lisboa. será?

seara não pode recusar

fernando seara tem a palavra. pelo que tem sido dito e escrito, deverá ser ele o candidato do psd (pelo menos). como a imprensa tem lembrado, já em 2007 e em 2009 o seu nome foi muito falado.

há quem pense que é sempre bom ser-se falado. terá prós e contras, mas há uma consequência certa: falando-se muito numa candidatura, às tantas tem mesmo de ser. fernando seara, desta vez, não tem margem para dizer que não. seria caricato se isso acontecesse.

quem sugeriu o seu nome certamente pensou bem. sabe-se que o combate vai ser complicado. mais ou menos do que em 2009, é o que se verá. não é fácil ganhar a um presidente em funções. aconteceu em lisboa em 2001, quando joão soares tinha seis anos de mandato. é o que terá costa em 2013.

ora, nesta altura, já há tempo para avaliações. em todo o caso, era mais complicado defrontar um presidente com dois anos de mandato, ainda em pleno ‘estado de graça’, como sucedeu nas últimas eleições.

a questão, agora, é simples: nestes seis anos, costa fez ou não fez obra? se fez, é difícil vencê-lo. mas se a cidade está mais suja, se as cargas e descargas estão mais confusas, se os prédios continuam degradados, aí é diferente.

em 2009, só com dois anos de mandato, antónio costa teve de fazer muita coligação e, mesmo assim, ganhou só por 5%. que, para serem agora superados, basta que 2,5% dos eleitores troquem de voto. não se conseguirá isso?

resta ponderar a situação política nacional. mas, aí, muita água vai ainda correr debaixo das pontes e dos viadutos.

um autarca tem de mostrar trabalho

com limitações de mandatos, com alterações da lei eleitoral, com mudanças de freguesias ou não, continua a estar em cima da mesa a possibilidade de autarcas mudarem de município.

o próprio fernando seara é um desses casos. não pode recandidatar-se a novo mandato em sintra. também por isso, o seu nome foi avançado para outro concelho do distrito.

ora, não passa pela cabeça de ninguém que um presidente de câmara se candidate a outro município sem que esteja bem confiante quando à avaliação do trabalho efectuado na autarquia onde cessa funções. ainda há dias, passando de carro pelo centro de sintra, pensava nessa questão… e os dirigentes partidários responsáveis por essas escolhas devem estar igualmente seguros disso. devem ter realizado as devidas avaliações.

em 2002, quando durão barroso me convidou para me candidatar a lisboa, tinha a certeza de que podiam falar com a população da figueira da foz. fizeram abaixo-assinados para eu ficar. e, que fique claro, eu queria continuar o meu trabalho na terra que me tinha recebido. mesmo tratando-se da capital do país, da cidade onde nasci e onde quase sempre vivi, só saí por ter sido convidado com muita insistência.

desta vez, há razões legais que obrigam autarcas a não continuar onde estão. se tiverem obra, é importante para se apresentarem a eleições noutra terra. é, certamente, o que vai suceder com fernando seara. terá de falar do que fez em sintra para provar o que pode fazer em lisboa. em 2001, eu estava tão seguro do do meu trabalho na figueira que organizámos excursões para lisboetas – principalmente dos bairros mais pobres – irem ver a obra feita. sintra é mais perto.