‘Contas da Zona Euro no seu conjunto são invejáveis’

Economista e investigador do Centro de Estudos Sociais, José Maria Castro Caldas defende a criação de eurobonds e a compra directa de dívida aos Estados pelo BCE.

há um debate em torno do crescimento na europa, mas há falta de liquidez. como se pode financiar o crescimento?

a proposta de emissão de dívida conjunta da união europeia…

os eurobonds?

sim. uma emissão de eurobonds permitiria mutualizar parte da dívida dos países da zona euro e proporcionar meios para financiar o crescimento.

mas os alemães não querem.

não querem com o argumento de que isso faria subir as taxas de juro. mas isso está por demonstrar. os eurobonds poderiam tornar-se um activo de refúgio. as contas da zona euro no seu conjunto são invejáveis, em comparação com os eua e o japão. isso permitiria financiar um programa de crescimento.

podemos confiar que dois gigantes como itália e espanha não vão cair?

não podemos estar nada confiantes, o cenário em espanha é de perda de controlo da situação. parece mesmo estar a faltar o apoio italiano e francês na aplicação do que foi decidido no último conselho europeu. em itália não estão no mesmo nível de aflição.

mas já estiveram.

e podem voltar a estar. a liderança na europa está a perder o controlo dos acontecimentos.

os eurobonds seriam suficientes para travar a onda que tem vindo a derrubar país atrás de país?

provavelmente não, haveria que acrescentar a isso uma entidade que intervenha no mercado primário da dívida, que seria o banco central europeu. tal obrigaria a uma alteração dos estatutos, que pode ser feita, ou fazer intervir no mercado primário o novo fundo que estava para entrar em funcionamento em julho. isso estragaria o jogo aos vendedores a descoberto que estão a ganhar fortunas com estes problemas. depois, como o orçamento comunitário que temos é muito difícil…

é 1% dos pib da união europeia.

é irrisório e teria de crescer…

nos eua ronda os 20%.

tem de crescer ao ponto de fazer a redistribuição, por exemplo, garantindo o acesso à saúde e à educação independentemente do sítio onde se vive. isso exige uma união não apenas monetária, mas uma união política.

os super-ricos guardam 17 biliões de euros em paraísos fiscais…

bastaria que se decidisse que não haveria transferências entre bancos da zona euro e paraísos fiscais para que estes entrassem em colapso. isso seria suficiente para desencadear uma atitude semelhante em outros países, nomeadamente emergentes que têm tanto a perder. falta é vontade.

frederico.pinheiro@sol.pt