Euro ‘barato’ dá folga à periferia

É provavelmente a única boa notícia recente da crise da moeda única europeia. A forte desvalorização do euro face ao dólar e às principais divisas mundiais nos últimos meses está a tornar as exportações da Zona Euro cada vez mais competitivas no exterior. Abre-se uma ‘via’ de saída da recessão onde se encontra a maioria…

no último ano, o euro já perdeu 16% do valor face à moeda norte-americana e está hoje a cotar na casa de 1,22 dólares, um mínimo de dois anos.

 

euro abaixo de 1,2 dólares?

segundo os analistas contactados pelo sol, a moeda europeia poderá continuar a cair nos próximos meses e descer mesmo abaixo de 1,2 dólares: «para isso é necessário um catalisador que despolete esse comportamento, como um resgate público a espanha, o abandono da grécia do euro ou a deterioração dos custos de financiamento de itália», diz josé sarmento, analista da fincor. a paridade com o dólar, apesar de possível, é descartada pelos especialistas, no curto prazo.

mas o dólar não é caso isolado. nos últimos 12 meses, o euro desvalorizou-se cerca de 11% em relação às moedas dos 20 maiores parceiros comerciais da zona euro, entre eles a china, japão e reino unido, segundo dados do banco central europeu.

com os seus produtos 10 a 15% mais baratos, os países da zona euro vêem abrir-se uma oportunidade de potenciar as suas exportações, a única componente da economia que ainda cresce na maioria dos estados.

 

diversificar é preciso

porém, os efeitos deste ganho podem ser limitados no curto prazo. a maioria do comércio externo dos estados-membros é feita com os outros parceiros do euro: em portugal, 75% das exportações destinam-se à zona euro, e na alemanha mais de 40%. «os principais blocos mundiais (eua, japão e europa) são menos sensíveis ao comércio externo do que aquilo que é o senso comum», lembra diogo serras lopes. «a_desvalorização do euro tem um efeito positivo nas economias europeias, mas tal não deve ser visto como uma tábua de salvação», acrescenta o director de investimentos do banco best.

não sendo ‘a’ salvação, o euro barato é pelo menos uma ‘folga’ que se abre para os países da periferia do euro, como portugal. com a diminuição das importações na maioria dos países, devido à recessão e queda do consumo, a subida das exportações, além do impacto no crescimento, permite também equilibrar as contas externas e reduzir o endividamento.

luis.goncalves@sol.pt