era a segunda oportunidade de pistorius se mostrar ao mundo.
esta quinta-feira, a áfrica do sul era uma das nações que disputava as
eliminatórias dos 4×400 metros, ou seja, por estafetas. logo aí, estava
cumprido um sonho: o homem, de 26 anos, fora um dos escolhidos para correr pelo
seu país.
pistorius seria o terceiro a correr sobre a pista, só
precisando que, antes dele, dois compatriotas fizessem o seu dever. um deles, o
segundo, ofentse mogawane, porém, embateu no atleta queniano, caiu, e não se
voltou a levantar. pistorius, por essa altura, aguardava com um braço esticado
atrás das costas, esperando que o seu colega lhe passasse bastão.
nada lhe chegou às mãos. apercebendo-se do que se passava, o
sul-africano levantou os braços e levou-os à cabeça, sinal de incredulidade perante
o que se tinha passado. a sua equipa acabou por nem sequer terminar a prova, e
não se qualificou portanto para as meias-finais.
aqui, o azar de um compatriota impediu pistorius de repetir
o que, dias antes, tinha inscrito na história das olimpíadas.
no sábado, o sul-africano tornara-se no primeiro atleta
paralímpico – ambas as suas pernas foram-lhe amputadas aos 11 meses de idade,
abaixo dos joelhos -, a competir nos jogos. nas eliminatórias dos 400 metros
individuais, pistorius foi o segundo classificado da sua série. no dia
seguinte, contudo, o sonho terminou da mais fria maneira: foi o último
classificado nas meias-finais.
mas o que interessava era a história, e tanto pistorius como
o público sabiam-no. sempre que o sul-africano pisava a pista do estádio
olímpico, era recebido por ovações e gritos de incentivo, como o britânico daily telegraph tanto destacou.
«foi muito difícil, especialmente por o público ter sido
fantástico, e por ter recebido tanto apoio vindo do meu país», disse, quando
reagiu ao percalço que não o deixou correr esta quinta-feira.
a real luta do sul-africano foi ganha nesse dia, no momento em que pisou a pista de tartan para competir nas olimpíadas. em 2008, a federação internacional de atletismo (fia) considerou-o inelegível para participar nos jogos de pequim, capital chinesa, após um estudo alegar que as próteses lhe dariam uma vantagem sobre os restantes atletas, tidos como ‘normais’.
um estudo que um outro contrariou, em alguns meses depois, e que o tribunal arbitral do desporto (tas, na sigla inglesa) utilizou para revogar a decisão da fia. e pistorius só não esteve nos jogos de pequim porque não alcançou um tempo que lhe permitisse qualificar para a selecção olímpica sul-africana.
este ano também não o conseguiu, mas o comité olímpico do seu país decidiu integrá-lo na selecção. um prémio pela dedicação e sonho, e uma oportunidade para fazer história.
para oscar pistorius, estes jogos terminaram, mas não será
desta que se despedirá de londres. a 29
de agosto iniciam-se os paralímpicos, e aí, a história do sul-africano já é
longa: soma quatro medalhas de ouro e uma de bronze, divididas entre pequim (2008)
e atenas (2004).