A importância das coisas

Ouvi um grito de horror vindo da rua pouco depois da falsa partida de Sun Yang na corrida de natação dos 1.500m estilos. Trazia uma medalha de ouro dos 400m estilos e era o favorito à vitória.

a entrada precipitada na piscina podia significar a desclassificação. felizmente, foi um engano, um barulho intrometido no recinto, e sun yang acabaria por vencer, batendo o recorde do mundo por três segundos. a corrida mais longa na piscina terminou com o nadador aos gritos, a chapinhar na água como se fosse uma criança e a chorar desesperado. quando saiu da piscina, cumprimentou os espectadores com duas vénias. é raro ver um descontrolo tão grande num atleta de alta competição. mas reparemos que de um momento para o outro foi tudo posto em causa. os anos de treino e sacrifício estiveram em risco naquela hipotética falsa partida que deitaria tudo a perder. a importância das provas é esta: é preciso trabalhar muito para chegar ali. bravo, sun yang.

atletas no twitter

as olimpíadas de londres são as primeiras da era twitter. a experiência deve ser divertida para os atletas. muitos têm as suas próprias contas e participam, por vezes incluindo até fotografias em momentos de descontracção, mas em geral não fazem muitas actualizações. é natural: estão a competir nos jogos olímpicos. a excepção foi o sul-africano oscar pistorius, que não se cansou de twittar e retwittar agradecimentos e comentários de apoio. os apoiantes anónimos não tiveram direito ao rt, mas ficámos a saber que samuel l. jackson elogiou a coragem do atleta na semifinal dos 400m. pistorius foi demasiado intenso no twitter (tweets a toda a hora é spam), mas phelps foi tão cool a twittar como quando chega à piscina de auscultadores. porém, nada chega à exuberância de usain bolt. no perfil tem escrito: «o atleta mais naturalmente talentoso que o mundo alguma vez conheceu». avisou o mundo que tem mais de um milhão de seguidores. e merece mais.

ainda acabam a fumar

uma notícia no the washington post diz que todos os anos é a mesma coisa. chega o verão e as iranianas começam a usar o hijab de uma forma mais descontraída. está sol, está calor e há pano a mais na roupa. o véu solto, que mostra uma parte do cabelo, tem sido motivo de pressão por parte dos clérigos xiitas sobre o presidente mahmoud ahmadinejad. ahmadinejad diz que prefere que as mulheres queiram usar o véu por sua livre e espontânea vontade, em vez de lhes impor o uso. mas que divertido. é uma enorme preocupação esta de as mulheres muçulmanas começarem a desapertar o véu. porque já se sabe que uma vez soltos os cabelos tudo pode acontecer. os clérigos avisaram que há o risco de as iranianas ficarem parecidas com as ocidentais que andam meias nuas na rua e a jogar voleibol de praia com fatinhos minúsculos, se a lei de uso obrigatório do véu islâmico não for observada. é uma ameaça à paz masculina. por este andar, ainda acabam a fumar.

bolt e as regras

como se esperava, o jamaicano usain bolt foi o vencedor da magnífica corrida dos 100m. em apenas 9,63s, bolt chegou à meta e bateu o recorde olímpico. é preciso ser meio louco para correr assim, mas ainda bem que esta loucura existe no mundo. sem ela, seria impossível desafiar os limites do ser humano. é possível correr 100m no espaço de tempo de 9,63s. há um homem que é capaz de o fazer, mas esse homem não pode levar a sua corda de saltar para dentro do estádio na mochila, nem pode levar um elástico para fazer exercícios de alongamento. também não pode levar nenhum tablet, e na prova dos 100m, preparado para correr, ainda teve de ouvir dos funcionários que devia formar uma fila direitinha com os outros atletas. bolt criticou o uso destas regras mesquinhas ao telegraph. os britânicos lá terão os seus motivos para as adoptar, mas é difícil perceber por que razão chegam ao ponto de perturbar o treino dos atletas.

tubarão expiatório

a propósito de demon fish: travels through the hidden world of sharks, de juliet eilperin, theo tait escreve um artigo informativo sobre tubarões no london review of books. percebi que pouco ou nada sabemos sobre este grande predador, que habita o planeta há cerca de 150 milhões de anos. a sexualidade deste animal pré-histórico é pouco mencionada porque é horrível. duas crias nascem depois de comerem os irmãos nos dois úteros da fêmea. a sua existência é violenta, mas o tubarão vulgar não come carne humana. são poucos os ataques a seres humanos e os que acontecem são mais por se estar no sítio errado à hora errada do que por algum gosto especial do animal por nós. até pode arrancar o bracinho, mas também é rápido a cuspi-lo porque o sabor não lhe interessa. o tubarão é dos predadores com pior publicidade do mundo. será por isso que ninguém fala dos 73 milhões de tubarões mortos por ano para fazer sopa? como é mau, não faz mal.