As férias do 1.º ministro

A escolha do local de férias por parte de um primeiro-ministro é sempre uma opção delicada.

antes da crise era mais fácil, sobretudo se fosse socialista. lembro-me de jorge sampaio ir para a quinta do lago, já presidente da república, e de nunca ter sido incomodado. um ano estivemos na mesma rua e cruzávamo-nos passeando depois do jantar, eu com os meus filhos, ele com a família.

quando fui nomeado primeiro-ministro, fui para onde ia desde 1991. tive helicópteros a sobrevoarem a casa em que estava com os meus familiares. páginas e páginas de fotografias apareceram em revistas e jornais. fiz dois fins-de-semana de férias (com visita a incêndios pelo meio). essas férias (?) pouco tempo depois de tomar posse deram pano para mangas.

pedro passos coelho resolveu ir para onde julgo que sempre foi. a família precisa e não são uns dias que atrasam a recuperação do país.

é certo que no ano passado, quando para ali foi, estava em pleno ‘estado de graça’. ora, nestas matérias, ensina a experiência que é preciso pensar no tempo em que a ‘graça’ já não é tanta…

por isso, este verão, havia curiosidade de saber se passos coelho mudaria de roteiro. manteve. e fez bem. seria péssimo se tivesse mudado. com a atitude que tomaram, passos coelho e a mulher reforçaram o respeito geral.

as comissões que se queriam manifestar ficaram sem grande espaço de manobra. quem não respeitar o direito ao descanso do primeiro-ministro e da família ficará mal visto.

coelho não recuará na privatização da rtp

privatizar a rtp é matéria em que passos coelho não recuará, já que ‘determinação’ é característica que o identifica. ele não recuaria de qualquer modo. mas depois de todas as campanhas, directas ou indirectas, a que se tem assistido, ainda menos.

manda a verdade dizer que sempre assumiu essa ‘bandeira’ desde que foi eleito presidente do psd. garantiu que iria tirar o estado dos negócios e das áreas onde entende não fazer sentido a presença dos poderes públicos.

obviamente que há diferentes maneiras de o fazer, nomeadamente em relação ao mercado publicitário. o processo arrancou e está em marcha – e certamente que já se desenvolvem múltiplas diligências para se formarem parcerias ganhadoras.

como aqui escrevi na passada semana, o mundo do audiovisual está em profunda mudança. o cabo avança, as televisões generalistas não quiseram, pela primeira vez, os direitos de transmissão dos jogos da liga portuguesa…

ora, a privatização da rtp vai ser, não ‘a cereja em cima do bolo’, mas um momento-chave na entrada numa nova época da comunicação social em portugal.

não sei se estará definida até ao final do ano. atrevo-me a dizer que o objecto da privatização seguramente que sim. o início formal do concurso será difícil. mas não vai parar.

cavaco e o adeus de eurico

esta semana quero saudar o percurso político de eurico de melo. ligo-o, principalmente, a francisco sá carneiro. entre ambos existia uma sólida amizade e uma profunda comunhão de princípios e valores.

assisti, participei, discordei, aplaudi (quase sempre) momentos significativos da sua intervenção política.

era uma pessoa bem educada, com espírito prático e preocupada em unir. era um patriota, um homem da iniciativa privada, alguém que fazia questão de sempre se assumir como social-democrata.

foi bom confirmar que cavaco silva não faltou ao adeus a quem tanto o defendeu e apoiou. foi pela mão de eurico de melo que cavaco silva saltou vários obstáculos. não o esqueceu e ainda bem. mais do que o presidente, cavaco silva tinha de estar lá.

quem era seu amigo, quem muito lhe deve ou quem começou pela mão de eurico de melo nas andanças do poder, tinha de estar presente.