‘Melhor em Las Vegas’

‘Love Classic Republican Foreign Policy? Vote for Obama’ era o título de um artigo recente de John Rauch no New Republic. Para ele, a política externa de Barack Obama tem-se pautado por cânones de realismo clássico, ao modo de presidentes republicanos como Eisenhower, Nixon e George H. Bush (Bush 41, ou Bush sénior).

e para sustentar esta afirmação, rauch mencionava o fim das intervenções no iraque e afeganistão, a estabilização de relações com a rússia e a china e a continuação da luta antiterrorista.

a discussão ‘idealismo’ versus ‘realismo’ na política norte-americana é um tema inesgotável. ao fim e ao cabo – e a política de contenção na guerra fria, foi disso o exemplo acabado – as palavras, a retórica justificativa necessárias numa nação democrática, trazem o idealismo; os actos, a política, o realismo. nesse sentido os americanos não são muito diferentes da grã-bretanha que sempre praticou a realpolitik em nome de grandes princípios – liberdade dos mares, abolicionismo, luta contra as ‘tiranias’. ou da frança revolucionária e napoleónica que aproveitou ‘a guerra dos povos contra os reis’ para expandir e consolidar os seus interesses nacionais.

nos estados unidos houve presidentes democratas internacionalistas e ideológicos – woodrow wilson, f. d. roosevelt, jimmy carter – e realistas – truman e johnson. ronald reagan foi um conservador internacionalista com a sua bem sucedida cruzada que levou ao fim da urss e da guerra fria.

não sei se obama será tão realista como rauch o qualifica (gostava que fosse). mas mitt romney é que não é. o candidato republicano fez em jerusalém declarações sobre o direito de israel de atacar preventivamente as instalações nucleares do irão que são pouco realistas. pode haver desculpas e explicações – estava a falar para os cinco milhões de judeus norte-americanos e a atacar a política de obama qualificando-a de ‘mole’.

mas, como escreve no new york times thomas l. friedman, se era para impressionar os doadores judeus americanos e alguns evangélicos com esta carta branca de incondicionalidade aos radicais do likud e levando à ilharga o homem dos casinos, sheldon adelson, romney podia ter feito este número em las vegas.

porque, quanto à segurança de israel as palavras do ministro da defesa israelita – ehud barak – à cnn de que «a admnistração obama fez mais pela nossa segurança que qualquer coisa que eu possa recordar no passado» – são eloquentes.

além disso há uma profunda divisão, em israel, quanto ao sentido e à boa razão de atacar o irão. e se washington quer fazer alguma coisa a sério pela paz – e por israel, pela palestina e pelo médio oriente – não pode alienar-se a uma facção das partes. estas declarações – está certo friedman – caíam melhor em las vegas.