Telemóveis: Malefícios para as crianças

António Gentil Martins, cirurgião pediátrico e antigo bastonário da Ordem dos Médicos, analisa o fenómeno da ‘telemóveldependência’ e dá sugestões para minimizar os perigos da radiação.As crianças são particularmente vulneráveis.

desde há muito que se usam aparelhos emissores de radiação electromagnética, como os rádios, as televisões, os computadores, os microondas, etc. mas ninguém anda com estes aparelhos junto à cabeça. e por alguma razão se recomenda não estar muito próximo dos aparelhos de televisão. e quem trabalha intensamente com computadores queixa-se de dores de cabeça e perturbações da visão. mas ainda ‘a procissão vai no adro’ e faltam algumas dezenas de anos para se poder, com objectividade, conhecer as consequências do que é feito nesses campos.

um grupo de peritos da comissão europeia até já definiu uma ‘síndrome de hipersensibilidade electromagnética’. isto sem falar no paralelismo que se pode estabelecer com o tabaco, pois só ao fim de dezenas de anos foi possível comprovar, científica e indiscutivelmente, os seus malefícios – enquanto as companhias tabaqueiras procuravam, em grandes e dispendiosas campanhas publicitárias, negar aquilo de que não só suspeitavam mas que já sabiam ser verdade, como é hoje notório. foram depois obrigadas a alterar a sua publicidade, além de terem sofrido, sobretudo nos eua, graves processos judiciais. como sucedeu com o tabaco, as grandes empresas do sector das telecomunicações reduziram ou cortaram os subsídios à investigação nesse campo. por que terá acontecido?

o uso de sistemas de mãos livres ou de alta voz, embora recomendável, reduzirá em cerca de 50% a exposição da cabeça às radiações do telemóvel. mas não diminuirá o perigo de acidentes de viação, pois a falta de atenção ao trânsito mantém-se…

as capas para telemóveis, com os seus filtros, parecem também reduzir o nível de radiação electromagnética recebida. mas existem dúvidas sobre a sua eficácia real, podendo mesmo ser contraproducentes, pois que, constituindo barreiras à propagação das ondas, levam a aumentar a potência do telemóvel. finalmente, deve evitar falar-se quando há pouca rede ou dentro de edifícios ou espaços fechados, onde a intensidade de radiação a emitir é maior.

sabendo-se que o momento em que o nível de radiação emitido pelos telemóveis é máximo ao ligar e desligar, sugere-se que, ao receber uma chamada, se deixem passar uns segundos até levar o telemóvel ao ouvido. mas, em nenhuma circunstância, deverá falar-se continuadamente por mais de 20 minutos (limite arbitrariamente estabelecido e que já é de evitar).

quem conseguir ouvir bem, deve procurar manter o telemóvel o mais afastado possível do ouvido. por outro lado, deve procurar alternar-se entre o ouvido esquerdo e o direito. e afaste-se dos outros quando fala. tenha sempre o telemóvel com a carga máxima, pois com carga baixa emite mais radiação. não use armações metálicas nos óculos, que aumentam cerca de 20% a irradiação.

o maior problema é saber a partir de que limites os telemóveis podem ser nocivos para a saúde. e, se o forem – como tudo indica –, em que medida vale a pena correr riscos. mas será que podemos prescindir dos telemóveis (ou dos computadores… e da língua inglesa) – ou deveremos assumir um risco calculado e tentar minimizá-lo? também conhecemos a poluição provocada pelos automóveis e pelos autocarros e eles não deixam de circular…

o telemóvel é já uma realidade básica e imprescindível, pois muitos, ainda que com pouco dinheiro para comer e vivendo na miséria, não deixam de o ter (mesmo que seja roubado…). poderá até já se falar de ‘telemóveldependência’, como com o álcool ou a droga. isto para não falar nas contas crescentes e insustentáveis.

felizmente a tecnologia tem evoluído, e hoje os telemóveis são mais seguros, tendo a antena incorporada e não exterior, como inicialmente.

importa ter particular cuidado com as crianças. sendo os seus ossos cranianos mais delgados, e estando o seu cérebro ainda em desenvolvimento, sofrem uma maior absorção da energia electromagnética nos tecidos (cerca do dobro entre um ano de vida e a idade adulta). por outro lado, com as células das crianças em muito mais rápida multiplicação, o efeito é seguramente mais intenso, sendo os perigos de uma alteração do adn celular, nomeadamente nas células sanguíneas e cerebrais, certamente maiores. e ainda temos a considerar o seu maior tempo de vida.

parece assim ser da mais elementar prudência, sobretudo nas crianças mais novas, evitar o uso de telemóveis ou reduzi-lo ao mínimo, reservando-o para situações de emergência, com chamadas limitadas a números programados pelos pais. e os aparelhos deverão estar desligados durante o horário escolar. sendo úteis para os pais localizarem uma criança perdida, os telemóveis nunca poderão ser usados como brinquedos ou como prémios de sucesso…

vale a pena louvar o cancelamento do contrato para a nokia utilizar nos seus telemóveis os símbolos dos desenhos animados de walt disney (mickey, minnie, etc.), a fim de não estimular o uso do telemóvel pelas crianças.

telemóveis: a doença do século xxi