passageiros de mochila às costas, guarda-sóis debaixo do braço, biquínis a insinuarem-se por debaixo da roupa, malas térmicas na mão e promessas de um dia de praia ou de um passeio bem passado. tudo à distância de um bilhete, que se faz esperar. e muito: no mínimo, 30 a 45 minutos.
são assim as manhãs e inícios de tarde na estação ferroviária do cais do sodré, em lisboa. nos meses de verão, o cenário é preenchido por filas intermináveis onde predominam estrangeiros ou portugueses de férias. mas também pessoas que se vêem obrigadas a enfrentar as bichas porque precisam de usar o comboio para ir trabalhar. por dia, durante a semana, passam 20 mil pessoas por aquele interface ferroviário da linha de cascais. ao fim-de-semana, ainda segundo a cp, o número de viajantes baixa para os 9.500.
as cinco bilheteiras e as dez caixas de venda automática da estação não são suficientes para tamanha procura. e a ausência regular de funcionários a auxiliar o uso das máquinas faz com que os tempos de espera exasperem os viajantes.
máquinas geram confusão
na manhã da passada segunda-feira, rute duarte estava com os dois filhos na fila das máquinas de bilhetes a aguardar o ‘passaporte’ para um dia passado na praia de carcavelos. estava à espera há 15 minutos e demoraria pelo menos outro tanto, até conseguir despachar-se. «há uma semana, a fila estava ainda maior», contou ao sol esta portuguesa de 32 anos residente no reino unido, que veio cá passar 15 dias. rute admite que não se entende bem com a compra automática, mas indica ter optado pelas máquinas por uma simples razão: «não fui para a fila da bilheteira porque ainda é maior que esta».
«chegamos a estar à espera 45 minutos. hoje demorei meia hora a conseguir tirar bilhete», lamenta, por seu turno, fátima bolonhesa. «está tudo a reclamar! a maioria das pessoas está de férias, mas há pessoas que querem ir trabalhar, como é o meu caso», explicou ao sol. «o que vale é que a minha patroa é compreensiva», atira a passageira, antes de finalmente conseguir validar o bilhete.
«isto é péssimo!», critica sara monteiro, de 50 anos. esta esteticista, que teve de ir para a fila para renovar o passe, por precisar de ir trabalhar, lamenta que não haja ninguém para a ajudar. «estive quinze minutos na fila até perceber que a máquina estava avariada e depois tive de ir para outra fila», explica. pelo meio, viu-se no meio de um jogo do pingue-pongue: «fui ao apoio ao cliente e o senhor que lá estava disse que não era nada com ele, que era com a bilheteira. fui à bilheteira e disseram-me que era com o apoio ao cliente…».
passado algum tempo, e após a sua queixa, apareceu uma funcionária da cp que esteve temporariamente a auxiliar algumas pessoas que estavam na fila das máquinas. mas não esteve lá mais de 15 minutos.
«para quem vai trabalhar é complicado porque não há uma bilheteira prioritária. têm de se sujeitar», observa dinah jakobsson, que trabalha há oito anos num café no interior da estação. mas os turistas não estão melhor: «as máquinas geram mais confusões aos estrangeiros que, quando não se entendem com aquela forma de pagamento, têm depois de ir para outra fila, para a bilheteira».
questionada pelo sol sobre as queixas dos utentes, a responsável de comunicação da cp garantiu que «existem colaboradores da empresa na estação que dão efectivamente apoio aos clientes utilizadores das máquinas».
é notório, porém, que o apoio é esporádico e insuficiente para a quantidade de utilizadores. no café próximo da saída do metro, sandra alexandre divide-se entre tirar bicas e dar informações aos turistas estrangeiros. a pergunta deles é quase sempre a mesma, ainda que varie a língua: «não me entendo com a máquina. onde há outro sítio para tirar bilhetes?». em poucos minutos, o sol viu também três turistas fazerem a mesma pergunta.
na manhã de quarta-feira, naquela zona das máquinas, encontrava-se um funcionário da cp a ajudar os utilizadores – um apoio escasso, tendo em conta as dezenas de pessoas que barravam as saídas do metro.
em declarações ao sol, o dirigente da fectrans-federação de sindicatos dos transportes, josé manuel de oliveira, evidencia que «tem havido uma redução significativa de pessoal na cp e nas áreas suburbanas têm sido substituídas as pessoas por máquinas». concorda que «as máquinas não são fáceis de operar» e que, por isso, «haveria necessidade de ter gente que acudisse aos utilizadores».
liliana.garcia@sol.pt