Bolt, o grande

Vi e ouvi a nossa grande atleta Rosa Mota a dizer que torcia por Yohan Blake na corrida de 200 metros e não por Usain Bolt, porque não gostava «daquelas fitas».

muitos comentadores mostraram um desagrado parecido com as palhaçadas de bolt. os menos satisfeitos com a vida chegaram ao ponto de afirmar que o jamaicano é arrogante. infelizmente, não há nada de invulgar na antipatia dirigida ao que é excepcional. bolt dá espectáculo, é vaidoso, alegre e, ainda por cima, ganha tudo bastante à vontade. nestas olimpíadas ganhou três medalhas de ouro e mostrou que só ele bate os recordes antes estabelecidos por si. é um fenómeno. além disso, talvez o menos suportável para os seus críticos, mostrou ao mundo que a galhofa é compatível com a concentração e o profissionalismo. usain bolt dá o show e depois corre 200 metros em 19,32s. digam o que entenderem, mas os resultados falam mais alto. as olimpíadas de londres são dele.

o timbre não engana

o jornal argentino el clarín noticia que o tango gay está a fazer furor em buenos aires. os tangueiros não saíram propriamente em massa do armário, mas agora há dezenas de milongas, sítios em que se dança tango, em que os pares são compostos por pessoas do mesmo sexo. a terminologia mudou. os papéis do homem e da mulher na dança são agora de condutor e conduzido. abriram escolas onde homens e mulheres aprendem a dançar de acordo com o que querem ser no par. a moda fez sair das estantes os livros que mencionavam a homossexualidade na história do tango e as poucas mulheres que havia entre os imigrantes no fim do século xix. a sexualidade de carlos gardel voltou a ser tema de conversa. repito o que contou o grande compositor virgílio expósito, numa entrevista ao jornal página 12: «não sei se gardel era homossexual ou não. só sei que quando foi aos estados unidos gravar era tenor, e quando voltou era barítono».

depois dos jogos

li no guardian que o presidente do comité de organização dos jogos olímpicos de londres, sebastian coe, apelou aos pais para estarem mais atentos ao desenvolvimento físico dos filhos. a oportunidade para contrariar o sedentarismo veio com os jogos olímpicos, mas não é suficiente para incutir hábitos de competição desportiva. uma coisa é a educação física, sem dúvida importante para quem não tem talento para o desporto a sério. outra coisa, bem diferente, é praticar uma modalidade com o objectivo de participar em campeonatos e olimpíadas. os britânicos ganharam várias medalhas, o que os poderá encorajar a incluírem a prática do desporto de competição no currículo escolar. ganhar medalhas entusiasma os outros para o desporto de competição. também por isso, fiquei com pena de telma monteiro não estar no pódio. não quero praticar judo, mas gostava de perceber o que se passa no tapete. teremos sempre a canoagem.

em nome do pai?

o washington post publicou um depoimento de t.j. leyden, intitulado: ‘o que eu podia ter dito a wade michael page’. page é a criatura que assassinou seis sikhs à porta de um templo, no wisconsin. leyden, além de ex-bully, ex-punk e ex-membro de um grupo skinhead é, desde 2001, o fundador da strhate talk, uma organização que combate a violência e o racismo através da educação. diríamos que é um caso exemplar de redenção. a primeira vez que se envolveu numa luta foi com um primo. tinha dez anos. partiu-lhe três dedos e deslocou-lhe o ombro. a tia ficou furiosa com ele, mas o pai foi carinhoso, abraçou-o e disse-lhe que estava muito orgulhoso. leyden conta a história de infância como um marco; foi o início da sua vida como pessoa violenta, que defenderia ideologias estúpidas para se justificar. acredito que acredite nisso. mas não me convence que a maldade de um pai tenha levado a trinta anos de violência e ódio.

motim feminino

no mesmo noticiário em que zita seabra falou do uso de ares condicionados na guerra fria, as pussy riot vieram à baila. zita seabra criticou a escolha do local para a manifestação anti-putin, porque assim o regime aproveitaria para punir a insolência com o apoio do povo. recordemos que as pussy riot ‘cantaram’ o tema virgem maria, liberta-nos de putin, na igreja de cristo salvador, em moscovo. é uma prece legítima, feita num local adequado à reza. não foi a primeira vez que o grupo feminino punk se manifestou contra o regime de putin, mas nunca teve a atenção mediática que pretendia. agora que três dos seus membros enfrentam uma pena de prisão de três anos por ofensa religiosa, as pussy riot conseguiram o que queriam: dizer ao mundo que o regime russo é opressivo e intolerante. a realidade contradiz a análise de zita seabra. a menos que esteja a pensar no perdão manipulador que o amoroso putin irá conceder às raparigas.